Já os nossos corpos mergulharam juntos por entre esta selva de luz roubada, em movimentos perfeitos, em voos alados, numa dança sem fim no centro de um palco sem público. Deixar correr agora cada gota na janela baça... Que desperdicio!

sexta-feira, maio 06, 2005

.Um.

Lembro-me dela como se recordam os sonhos, sempre perto, à distância de um mundo. Lembro-me do sorriso reboscado por debaixo daquele eterno véu cinzento (como o outro lhe chamara), dos olhos brilhantes presos em mim, do sinal sobre o lábio superior, o mesmo sinal que saltitava em cada palavra... O toque da mão dela... Lembro-me tão mal do toque da mão dela, como se o tempo me ofuscasse a memória e, em lapsos constantes, me relembrasse da falta que me faz. Sempre à distância de um mundo... Aquele a que eu não soube nunca chegar.

O tempo sempre correu muito depressa para mim. Quando acordo parece que já passaram umas quantas horas e as que restam não se apresentam suficentes para o que pretendo fazer. Não sou do tipo de deixar para amanhã tudo o que não consigo fazer. Consigo e ponto final. Mas, como ia dizendo, o tempo sempre me pareceu correr muito depressa e, provavelmente devido a isso, pelo menos eu atribuo-lhe as culpas com a maior das certezas, não me vá um dia arrepender e achar que não tomei a devida atenção, não consigo situar o momento exacto em que a encontrei bem dentro de mim. Corria o mês das flores, isso eu sei. Lembro-me das tardes que passei no jardim deitado na relva, sempre de barriga para cima, a pensar na razão da sua intromissão na minha vida. Acho que é de barriga para cima que pensamos melhor. À nossa frente o céu, o universo em crescimento, como o nosso pensamento. Gosto de ficar assim horas, com os pés colados ao azul do céu até que o medo se apodere de mim. É que quando pensamos demais, chegamos sempre a conclusões arrependidas, simplesmente porque existem dentro de nós, sentimo-nos feios porque nos coroem por dentro devagar, sem nunca pensarmos nelas. Mas existem! E eu lembro-me disso, dos pensamentos arrependidos dentro da minha cabeça cambaleante num monte de terra qualquer, como sempre.
Um comentário, bastou um comentário para nos ligarmos com aquela corda da fantasia, como se o futuro estivesse à espreita numa esquina da vida ainda não adivinhada. Somos tão minúsculos face aos desígnios do universo que nem reparamos que o mundo continua a correr lá fora. Ficamos presos, ansiosos pelas palavras atiradas para dentro de nós, a ver se chegam lá ao fundo ou se ficam a flutuar. Quando nos atingem num abismo qualquer sentimo-nos felizes. Quando estamos bem, nem reparamos nelas. Somos realmente parvos! E se ficaram a flutuar esquecemo-nos delas como se as atirassemos para dentro da boca de onde vieram. Silaba a sílaba, na entoação do pensamento. E pensamos bem rápido! Ela pensava rápido.
Não sei quanto tempo ela passou a ler o que eu escrevia naquele meu jornal electrónico. A minha face melancólica agradou-lhe, com certeza. Devia ser como o paraíso no meio do inferno, como sonhar e ser ouvido. Eu sei disso, senti o mesmo quando ela um dia me dedicou um soneto, um entre os tantos que haveriam de vir por aí, lançados ao ar, apontados ao meu peito desarmado e já cansado (de mim, do mundo...). Ah, como me regojizei naquelas palavras ternas. E estão tão longe de mim, meu amor. Será que agora me ouves? Agora, tarde como a noite que chegou até nós... será que me consegues ouvir melhor? Era a tua alma colorida de mil sabores naquelas palavras, o meu corpo respirando ar, novamente. E nem assim te aceitei.
Muitas foram as vezes que me escreveram. “É um dos meus maiores sonhos”. E nunca me senti feliz. Gestos de carinho e paixão abandonados, simplesmente porque não eram retornados, simplesmente porque não os queria meus. Mas os dela não. Queria-os como se quer o vento. Passa por nós e sentimos frio. Ou então acalenta-nos a cara, numa carícia inesperada, tal mão embalando a pele. E passa. Sempre. Foi aí que mais errei. Culpa dos fazedores de sonhos, tenho a certeza. Olharam para ela e vislumbraram a luz dos meus dias cinzentos, o silêncio no meio da multidão e decidiram brincar. Uma pequena brincadeira. E demorou tão pouco até que o medo se instalasse...
As palavras dela iam e vinham como as ondas do mar. Em retorno tinham as minhas frases sempre inacabadas, metáforas elaboradas sempre em torno daquela cara desconhecida. Sim, porque não sabia quem ela era. Apenas palavras, daquelas que se atiram tipo flechas. Atiradas para matar.

terça-feira, maio 03, 2005

Já nem sei onde moras

Já nem sei onde moras. Perdi-te o rasto como quem perde o caminho para casa. Perdi-te [como se te tivesse!].
Passei pela tua casa, aquele prédio mal pintado, enraizado do fervor das avenidas redondantes. As janelas estão com as persianas avertas, deiando entrar a luz que tantas vezes vislumbrei num teu abraço. Ai, como os abraços arrefeceram!... E já lá vai tanto tempo. Mas enfim, as persianas estão abertas. É como se lá estivessem todos, sentados na sala, a ouvir música no teu quarto e com a tua mãe a fazer qualquer coisa no quarto. A da cozinha não conta, estava sempre aberta. Em cada janela um papel branco com um número de telefone. "Arrenda-se" e eu perdi mais uma raiz.
Faz tempo que não sei de ti. Já só recordo a tua voz quando não penso nela. Quanto mais me tento lembrar mais longe ela me parece, como as estrelas: só as podemos ver se não olharmos para elas. Mas estão sempre lá, quer queiramos, quer não. E a tua voz é assim. O timbre delicado, a gargalhada tímida, o eterno acne que teimava em não te passar. Ias adorar saber que também eu já sofri de acne e que de vez em quando ainda me espreita uma borbulha por um poro qualquer. Ias gozar com certeza. Eu brincava contigo. Tu não gostavas, dizias que era mau e que até o teu primo gozava contigo em frente à família toda. Nao tem mal nenhum. Mas não gostavas... E passavas horas diárias a enfiar pelo pele productos novos ou antigos, só para ver se agora funcionavam. Nunca funcionaram. Ou será que algum funcionou?
Ao pensar nestas coisas deixo-me ficar um pouco na "nossa" melancolia dos finais de tarde, das minhas partidas para campeonatos, das noites de cantigas de cocoró-cocó antes de adormecer. Tenho saudades, sabes? Não to diria. Nem o teu número sei. E se sei então fico pior. Quantas vezes te enviei mensagens só para saber se ainda existias e não obtive resposta. Com o tempo fui-me habituando ao pensamento de já não existires no meu ciclo de vida. Estás longe [ou perto, nem sei] e eu estou aqui, parecido ao que era. Mas já não espero por ti! O nosso sol continua comigo todas as noites mas já não o ponho a cantar para mim. Só de vez em quando o oiço, quando alguém cá vem e acha piada e lhe puxa a corda. Faço força para não ouvir. Dizias-me que gostava daquele som porque tinha falta de afecto quando era criança. Agora gosto dele, e disto tenho a certeza, porque foste tu que mo cantaste. Mas cantavas mal! Lembraste? Cantavas mal no banho e eu gozava contigo também!... Terminou.
Agora já nem posso passar de carro e olhar para cima pela janela empoeirada. A única coisa que vou ver vão ser os papeis e as janelas. Já não vejo os móveis por dentro. Costumava imaginar se estava alguma coisa mudada. Deveria estar, estavam sempre a falar de comprar isto e aquilo porque fazia falta. E eu imaginava como estaria. Mas só me consigo recordar de como está para sempre cá dentro. Lembro-me de tudo mas como se fosse apenas uma núvem. Pensamentos leves, não definidos, como se muito longínquos. Mas isso é impossível, sou jovem! Nada é muito longínquo! Mas tu pareces...
Talvez devas partir de mim, realmente. Já não sei onde estás, como falas, como andas [dizem-me que ainda gingas da mesma forma]! Não sei como abraças, como precisas, como sentes e pensas. E pior que tudo... Já nem sei onde moras.

quinta-feira, abril 21, 2005

Pequenas-coisas

É fantástico como as pessoas mudam, como tu mudaste. Devagarinho vai-se o interesse, vão-se a preocupação e os pequenos pormenores, as pequenas coisas. Vai-se tudo afundando no mais profundo segredo até que, sem mais ar, me afogo por dentro e rebento por fora. Secam os beijam, escasseiam os abraços e vai-se tudo, tão devagar quanto te foste.
Magoo-me assim, pensando, macerando o meu corpo com dores psicológicas até não aguentar mais. Não te quero perder mas tenho receio que... Haja mais lá fora. Alguém que me recorde, que me anseie em tudo o que faço, que me devolva os pedaços que foram espalhados, estilhaçados pelo tempo. Alguém que me refaça, que me destrua e me renasça! Sei lá, tenho receio que haja mais, algo mais. Um interesse pelo que digo, pela termodinâmica que odeio, pelo estado sólido, pela equação de Schrödinger!... Pelo que escrevo. Quer dizer... toda a gente acha muita piada ao que escrevo ao início. Até que, miraculosamente, se escquecem que escrevo. Será que despareço num qualquer instante e me torno outro? Que foi que te fiz? Onde foi que me anulei? Ah, perguntas retóricas, não podiam ser de outra forma. Não me lês. Eu não te aviso que escrevo. Passa-te ao lado. Como os meus pequenos "eus", as minhas pequenas coisas.
Ganhar um campeonato, chegar a casa. A minha irmã viu. Pelo menos ela! Viu-me o David, e mais gente, mas a minha irmã é de propósito, vale mais. Outras esquecem. Olham para a taça grande, sentada no topo do meu guarda-fatos, e nem ousam questionar de onde vem. É como se sempre lá tivesses estado mas nunca nele tivesses reparado. Que engraçado, como eu me sinto pequeno quando penso assim. É terrivel!...
Esquecem-se os pormenores e, sem dar-mos por isso, escapam-se os sentidos, de mansinho [e como esta palavra o descreve tão bem]...

domingo, abril 17, 2005

Sonho quente

Ah, afinal era mentira! Nem paixão nem alegria, nem felicidade, nem magia. Dei-te asas, fiz-te sonhar. Quiseste-me o corpo mas não o olhar... eram os olhos de verde pintados, as mãos de porto seguro, os desejos, os sonhos... Sempre os sonhos! Não consegues reparar que também que preciso sonhar? Dá-me vida, dá-me ar. Faz-me suspirar! Mas não.
Afinal era mentira!... Nem beijos, nem abraços. Nem amarras, nem cansaços... Só tu! No desespero de um sonho quente, que te tão quente ser m'ia incendiando. Mentira, mentira...

sexta-feira, abril 15, 2005

Não me deixes cair

Agarra-me enquanto eu caio! No fundo, mais fundo... Abraça-me contra o teu peito! Uma mão no ombro, outra no meu cabelo. Lágrimas, murmúrios, soluços sempre no teu peito. Faz-me seguro, torna-me outro! Faz-me maior, longe de mim, longe de tudo o que me faz perder os pedaços que eu mais sou. Longe do mundo azul de laranja sarapintado, dos olhos cinzentos de quem tão cinzento se pinta, dos segredos por dentro, dos sorrisos por fora!
Abraça-me como um sonho. Não me deixes cair! Faz-me de novo. Molda-me na tua mão desenhada, rasga-me em pedaços e cola-me em retalhos, por favor... Leva os laivos de loucura, as vestes de tristeza e as máscaras dos sorrisos. Leva-me...

segunda-feira, abril 04, 2005

Incertos caminhos

Trago-te pelo pescoço, como quem traz a vida pendurada ao peito. Demoro-me em ti, sem nunca reparares, na minha forma leve e banal de cruzar este meu olhar com o teu. Fico. Repito. Escuro. Claro. Dentro. Fora. Mas sempre mais fundo, mais fundo dentro de ti. Por tudo o que é pequeno, pela incerteza dos nosso sentidos - onde tudo é realmente incerto. E fico aí, no mais fundo de ti, onda és apenas tu longe do mundo, vazia de tudo o que te faz perder, perdida do mundo que nem sempre nos faz sorrir. Mas no nosso mundo sorrimos sempre, não é? O som inconfundível das nossas gargalhadas, as tarde solarengas sentados num salão de chá. Eu com o novo chá branco. Tu com a vista trocada pelo álcool que ainda te morde. E as vozes, as palavras sempre trocadas. Os passeios onde tudo se move menos nós. Flutuamos um no outro, sempre os dois, devagar por entre o universo em torno de nós. Estive a pensar... "Teoria do Clarcocentrismo". Sim, porque eu sou físico, tenho de pensar em tudo o que os outros não pensam. Na velocidade do vento, não ele levar-te para longe, na energia irradiada pelo sol, na tua termodinâmica sempre fora do equilibrio. Eu tenho de pensar em tudo o que mais ninguém pensa. E nunca o conto a ninguém... Só a ti. Tu, que me ouviste nas ondas e fotões do sol que nos queimava a pele no "Adamastor" e me levaste [ou fui eu?] a "Copenhaga" para esquiar um pouco. E esquiar é como nós. Só quando já não soubermos onde estamos saberemos a velocidade com que lá chegámos. E aí, só aí pensaremos... À mesma velocidade com que esquiamos. Os dois. Juntos de novo.

terça-feira, março 29, 2005

sexta-feira, março 25, 2005

Se me deixasses abraçar-te...!


Talvez nos afastemos pela falta que te faço, pelo facto de ser enorme dentro de ti, por gostares de mim. Não sei... Sentes que me afasto. Eu sinto que te afasto. E assim vamos, os dois, na penumbra da felicidade até que alguém nos abrace com um rasgão de luz branca. Posso ser eu? Não... tu sentes que me afasto. Eu sinto que te afasto.Não nos abraçamos. E como abraçar é primordial, não te beijo também. Mantenho-te longe. Tu julgas-me longe. E ficamos... longe, os dois.

Blue shell

Como se as palavras importassem. Não aquecem, não se movem. Não solidificam, evaporam. Transformam-se dentro de nós. Nunca podem ser reproduzidas, são sempre violadas.
Os beijos não! São como palavras que se entranham na pele, como pedaços de vida que se perdem dentro de nós. Os beijos são os beijos... Laranjas.
As palavras não, são azuis!

Pôr-de-sol


Laranja, sem dúvida laranja. Também poderia ser azul, mas não. Laranja, como o pôr-do-sol. Aliás, nós somos isso mesmo. Um eterno pôr-do-sol. Ou um nascer de sol? Também é laranja. Não, é um pôr, quando tudo está para terminar mas não vai embora. Quando gostamos e queremos ficar mais um pouquinho. Quando percorremos a areia molhada para não o perder. E entramos devagar na água. Imergimos. Somos levados pelos movimentos toscos do nosso corpo. Engolem-nos as ondas...Morremos. Ah, morremos!... Finalmente.
Sim, nós somos assim. Um eterno pôr-de-sol.

terça-feira, março 22, 2005

O centro é teu! O resto não sei...

Perdi-me nos papeis velhos debaixo dos livros da faculdade. Nos poemas, nas cartas sem remetente ou direcção, nas palavras nunca enviadas, nas frases que ficaram para sempre por dizer, nas imagens estáticas do passado eternizado. Vasculhei, como quem devora o tempo e o faz retroceder, as folhas dobradas, vincadas e talvez amarelecidas [nunca sei se a imagem está turva], os sentimentos, os segredos trocados, a inocência, a eterna forma do meu amor. Mudei, sinto-me tão mal... Desculpa, não conseguirei, quebrei a promessa [sabes, aquela de que já nem te lembras!], mudei!

mudeiMUDEImudeiMUDEI
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Oh, como mudei! Quero dizer-to tantas vezes, rodopiar sobre cada sílaba, morder cada entoação até que não faça mais sentido, até que se perca dentro de mim e que tudo volte a ser como era. Era tão feliz contigo, era tão livre, era tão grande... Foste embora e não voltaste. Deixaste o fantasma pendente no canto do meu quarto, não sei se disso te lembras, sempre a olhar para cima, sempre preso ao céu que no meu tecto inventámos. E o parque dos poetas? Nunca mais lá voltei... Tenho receio que seja como eu, invariante ao tempo devorador de sonhos e promessas. Quero que seja como dantes. Às 15h encontramo-nos lá, pode ser? Vamos para debaixo da palmeira dos segredos e ficamos assim deitados de barriga para cima, sempre de barriga para cima a ver a Terra rodar. Um beijo assaltado pelo vento, um abraço cortado pelo sol quente e os teus olhos. Ai, os teus olhos!
Mas tu aproveitaste mais que eu. Eu dormi enquanto tu ficaste a ver-me dormir. "Eu aproveitei mais que tu!" e eu chorei... mais que tu também. Andei, voei para bem longe de mim com asas feitas do pó que se instalava no ar. Pouco me mexia, não vivia, subsistia!

E hoje, como sempre, é a tua imagem ainda presa no no meu quadro de cortiça que me responde à lágrima cremosa que se vai desprendendo no meu olhar. O mesmo poema, o mesmo ângulo na fotografia, o mesmo coração. E à volta foram-se criando, instalando novas imagens, sempre à volta, nunca no centro. Porque o centro é teu mas tu entendes. O centro é teu! O resto.. O resto ainda não sei.

domingo, março 20, 2005

Lost

lost

Caminhamos, devagar, sobre o emaranhado do mundo a nossos pés. Tudo tão perto, tudo tão longe... A cada passo um sorriso solto, um salto, uma gargalhada acesa sobre as palavras sempre trocadas no silêncio dos nossos olhares. Em cada ruela uma frase segredada, um segredo escondido, um abraço apertado. Em cada abraço a força dos corpos, a tentação.
Caminhamos pela noite suja de mundanos entorpecidos pelas luzes da enorme cidade, andamos, como quem flutua num mundo à parte, sobre nuvens e carneiros de papel, sobre binquedos e cavalos de corcel. Não temos mais idade para isto... crescemos na inevitabilidade do tempo que corre. Não temos idade para isto!
Mas é tão bom quando nos perdemos num canto obscuro dessa enorme sala de brinquedos, nos ouvimos, nos tocamos, somos um! Quando, em frases sem lógica alguma, nos entendemos, sorrimos como loucos, nos deitamos e assim ficamos, presos à leveza das nossas palavras, tão fugases, tão breves e tão pesadas no meu céu estrelado. É tão com perder-me contigo!...
É estranho, quando me lembro de ti recordo sempre primeiro um momento em que, deitados no chão do ginásio, ficámos em silêncio. Porque às vezes as palavras são inúteis! Deitados de cabeça junta, o tecto branco à nossa frentes e as bocas fechadas num silêncio que de tão confortável se tornou memória. Talvez naquela ausência estivessem as palavras que não foram ditas nunca, os passos escondido que levaram à loucura enquanto caminhavamos, devagar sobre o emaranhado do mundo a nossos pés.

E gosto tanto de me perder contigo...

sábado, março 19, 2005

Ai, os sonhos!

Ah, está bem. Foste embora! Rumaste para norte no meio da minha tempestade , já nada faz mais sentido. Nada fez sentido! Não vais sozinha, já levas amarras e nós de marinheiro, daqueles fortes que ficam desengonçados quando não se sabe a técnica correcta para os apertar com força. Tens as amarras soltas.
Descanso do teu constante marulhar dentro de mim, da tua constante melodia a soprar pelo ar. Descanso dos teus olhos, da tua vida e dessa tua morte senpre inventada, tal eterna romântica que morre de amores sem nunca morrer. Pior que isso é não voltar a renascer das cinzas, querer ser outra, ser maior e mais forte, ser outra coisa, outro local, outra memória e outro sentido. Isso é pior!
Já não te oiço cantar, porque paraste? Gostava desse timbre constante, dessa tua subtileza na voz que tão poucas vezes ouvi. Sei lá, gostava da tua necesseidade do meu abraço, da tua fragilidade perante o mundo, perante mim... És tão frágil... Tão bonita.
Bem, eu fico ao centro caso queiras voltar. As chaves continuam onde as deixaste, por cima do teu caderno velho e esfarrapado [desculpa, não resisti a arrancar-lhe algumas folhas, aquelas dos desenhos, do meu nome escravinhado quando ainda só do meu nome sabias]. A tempestade há-de continuar, procura a turbulência, sabes que sou eu o criador, de sonhos, de tormentas, de dor e de terror. Crio tudo e não sei como lidar com isso. É tão perfeita a natureza! Por isso precisava de ti, para lidares comigo. Mas não resistimos, sucumbimos e foste para norte [se calhar foi para o sul. Não interessa, eu estou no centro, já sabes!].
Estás a ver as estrelas? Desculpa, não podem continuar tuas, não tas vou soprar mais, vou guardá-las tipo homem de negócios do meu amigo eterno. Posso não saber que lhes fazer mas pelo menos são minhas. Ou talvez não!... agora, se me permites, vou andando para cima que tenho sonhos para terminar, páginas para escrever, magia para espalhar. Se sentires frio olha para cima ;) Pode ser que eu esteja a passar por ti. Se me vires, peço-te, chama por mim, canta-me de novo naquele timbre delicado com que nunca me cantaste, aquele dos sonhos que criaste em mim, das ilusões, dos sonhos.
Ai, os sonhos!

quarta-feira, março 16, 2005

Lonelly

Sinto-me longe do mundo, longe de tudo o que nos pode prender, longe das pessoas, das coisas. Sinto-me flutuante sobre o universo, sem âncoras ou amarras que me possam abraçar contra algum local, sem peso ou condição, sem algo ou alguém... Sinto-me sozinho.
Vagueio pelos rastos do mundo à sua passagem, não o acompanho, deixo que me ultrapasse, deixo que não se prenda nos meus poros como suor ou vapor vital, deixo-o seguir, sempre, sempre mais longe. E então eu fico, atrás, na sombra da noite devoradora dos sonhos, criadora dos medos, dos sussurros absurdos, dos derradeiros segredos.
Sinto-me de lado, desnecessário, mudado... "Nunca mudes!", e custa tanto saber que mudei, saber que sou vento em vez de terra, flor de raiz desenterrada. Ah, sinto-me longe de tudo e de todos. Sinto tanta falta de um ombro amigo sem sequer saber o que a falta me produz, sem seuqre sentir a falta, sem sequer saber que falta sinto!
Culpa minha, minha culpa! Só queria um braço alegre que me agarra-se e me prendesse, que me aumentasse, que me excedesse!
Ò meu terror, que cada dia te torno mais real!

terça-feira, março 15, 2005

Devaneios

Ai, doces beijos que no teu corpo deslizava
Esses brandos caminhos nunca desbravados
Nunca possuídos, nunca trabalhados...

Esse teu doce mel que do teu corpo escorria
Pelos teus seios, no teu ventre em melodia
E em minha boca desaguava, tal beijo, tal desejo...

Tu. Núa em meu redil, em mil pedaços de papel
Em mil cores, mil sabores! Rainha de um pagão
Dona de mil e um sem nenhum senão!...

Ai, doces beijos que no teu corpo deslizavam...
Nestes meus sonhos, dementes devaneios
De passados já perdidos e futuros sempre alheios.

sábado, fevereiro 26, 2005

Miss You Love

Não sei como me sentir, não tenho certeza de como o fazer, de como me expressar.
Maníaco-depressivo,
Doido varrido,
Lunático apaixonado,
Esquizofrénico enamorado.
Não sei como me sentir, como me suportar, como me comportar, o que dizer, como aguentar todos os dias o murmúrio da cidade sem a tua voz para o apagar... Esperei por ti todo o tempo do mundo mas não te quero para não parar de te procurar.
Não te quero possuir,
Não te quero alcançar porque estás tão perto,
Não te quero percorrer a pele escura que de tanto imaginar a sei minha todas as noites,
Não te quero respirar, ouvir sussurrar nesse tom de voz que de ilusão se fez milagre!...

Não sei como me sentir, como te agarrar para não te deixar partir de novo sem nunca realmente te tocar, como te engolir suavemente como mel sem que te coles nas minha entranhas ansiosas por ti...
"And I miss you love
And I miss you love
I love the way you love
But I hate the way I'm supposed to love you back"

sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Remembering

"Eu e a Filipa no Port Aventura durante a viagem de finalistas a Lloret del Mar (a.l. 2001/2002)"`

É isto que tenho escrito desde "sempre" por detrás desta fotografia velha que está por cima do meu guarda-vestidos. Está presa num utensílio super moderno que me foi oferecido numa exibição que fiz ainda no meu outro grupo de dança (B.C.M.) por crianças e adultos que possuem cromossomia 21, não se adequa mas fica tão bem!...

Amanhã vou reve-la... Espero que não tenhas morrido no pedaço que eu conhecia.

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

É o fim! Desculpa ser assim...

É o fim! O fim da paixão demedida, dos beijos acalentados, dos abraços nunca aparecidos... É o fim da noite fugidia de lágrimas ensanguentada, dos suspiros rastejantes, dos toques entre amantes... O fim da magia de não te ter, de te saber perdida nos caminhos onde me perco, de nos conhecer ilusão num beco sem saída.
Soubesses tu mais um pouco, que meu coração é louco de te devorar, que preenchido está o trono por um qualquer marajá. Pudesse eu ter certeza que o mundo mudaria de novo, voltasse o tempo, voasse de novo, subissem os rios e as lágrimas caídas... Aí, aí sim, meu amor tornado sujeito durante a noite fria, seria teu e tu serias minha.

sexta-feira, fevereiro 18, 2005

Catástrofe

Que ninguém mais me sussurre poesia como tu,
Tornem-se duros todos os sons e as palavras
Enalteçam-se as cores, esses teus doces sabores...

Rasguem-se os céus em meu redor, caiam anjos!
Rosas voem pelos ares, açucenas pelos campos
Teus cabelos no meu pranto e tua pele na minha fronte.

Revoltem-se oceanos à minha estúpida passagem
Derrubem-se gigantes com esse beijo já roubado
E Consumem-se todos os pecados imaginados!

Oh!, que ninguém mais me sussurre poesia como tu,
Que se esvaneça a tua voz no meu peito assustado ...
Que morras!... E ressuscites no mais fundo de mim.