Já os nossos corpos mergulharam juntos por entre esta selva de luz roubada, em movimentos perfeitos, em voos alados, numa dança sem fim no centro de um palco sem público. Deixar correr agora cada gota na janela baça... Que desperdicio!

terça-feira, março 22, 2005

O centro é teu! O resto não sei...

Perdi-me nos papeis velhos debaixo dos livros da faculdade. Nos poemas, nas cartas sem remetente ou direcção, nas palavras nunca enviadas, nas frases que ficaram para sempre por dizer, nas imagens estáticas do passado eternizado. Vasculhei, como quem devora o tempo e o faz retroceder, as folhas dobradas, vincadas e talvez amarelecidas [nunca sei se a imagem está turva], os sentimentos, os segredos trocados, a inocência, a eterna forma do meu amor. Mudei, sinto-me tão mal... Desculpa, não conseguirei, quebrei a promessa [sabes, aquela de que já nem te lembras!], mudei!

mudeiMUDEImudeiMUDEI
mudeiMUDEImudeiMUDEI
mudeiMUDEImudeiMUDEI

Oh, como mudei! Quero dizer-to tantas vezes, rodopiar sobre cada sílaba, morder cada entoação até que não faça mais sentido, até que se perca dentro de mim e que tudo volte a ser como era. Era tão feliz contigo, era tão livre, era tão grande... Foste embora e não voltaste. Deixaste o fantasma pendente no canto do meu quarto, não sei se disso te lembras, sempre a olhar para cima, sempre preso ao céu que no meu tecto inventámos. E o parque dos poetas? Nunca mais lá voltei... Tenho receio que seja como eu, invariante ao tempo devorador de sonhos e promessas. Quero que seja como dantes. Às 15h encontramo-nos lá, pode ser? Vamos para debaixo da palmeira dos segredos e ficamos assim deitados de barriga para cima, sempre de barriga para cima a ver a Terra rodar. Um beijo assaltado pelo vento, um abraço cortado pelo sol quente e os teus olhos. Ai, os teus olhos!
Mas tu aproveitaste mais que eu. Eu dormi enquanto tu ficaste a ver-me dormir. "Eu aproveitei mais que tu!" e eu chorei... mais que tu também. Andei, voei para bem longe de mim com asas feitas do pó que se instalava no ar. Pouco me mexia, não vivia, subsistia!

E hoje, como sempre, é a tua imagem ainda presa no no meu quadro de cortiça que me responde à lágrima cremosa que se vai desprendendo no meu olhar. O mesmo poema, o mesmo ângulo na fotografia, o mesmo coração. E à volta foram-se criando, instalando novas imagens, sempre à volta, nunca no centro. Porque o centro é teu mas tu entendes. O centro é teu! O resto.. O resto ainda não sei.

Sem comentários: