Já os nossos corpos mergulharam juntos por entre esta selva de luz roubada, em movimentos perfeitos, em voos alados, numa dança sem fim no centro de um palco sem público. Deixar correr agora cada gota na janela baça... Que desperdicio!

terça-feira, março 29, 2005

sexta-feira, março 25, 2005

Se me deixasses abraçar-te...!


Talvez nos afastemos pela falta que te faço, pelo facto de ser enorme dentro de ti, por gostares de mim. Não sei... Sentes que me afasto. Eu sinto que te afasto. E assim vamos, os dois, na penumbra da felicidade até que alguém nos abrace com um rasgão de luz branca. Posso ser eu? Não... tu sentes que me afasto. Eu sinto que te afasto.Não nos abraçamos. E como abraçar é primordial, não te beijo também. Mantenho-te longe. Tu julgas-me longe. E ficamos... longe, os dois.

Blue shell

Como se as palavras importassem. Não aquecem, não se movem. Não solidificam, evaporam. Transformam-se dentro de nós. Nunca podem ser reproduzidas, são sempre violadas.
Os beijos não! São como palavras que se entranham na pele, como pedaços de vida que se perdem dentro de nós. Os beijos são os beijos... Laranjas.
As palavras não, são azuis!

Pôr-de-sol


Laranja, sem dúvida laranja. Também poderia ser azul, mas não. Laranja, como o pôr-do-sol. Aliás, nós somos isso mesmo. Um eterno pôr-do-sol. Ou um nascer de sol? Também é laranja. Não, é um pôr, quando tudo está para terminar mas não vai embora. Quando gostamos e queremos ficar mais um pouquinho. Quando percorremos a areia molhada para não o perder. E entramos devagar na água. Imergimos. Somos levados pelos movimentos toscos do nosso corpo. Engolem-nos as ondas...Morremos. Ah, morremos!... Finalmente.
Sim, nós somos assim. Um eterno pôr-de-sol.

terça-feira, março 22, 2005

O centro é teu! O resto não sei...

Perdi-me nos papeis velhos debaixo dos livros da faculdade. Nos poemas, nas cartas sem remetente ou direcção, nas palavras nunca enviadas, nas frases que ficaram para sempre por dizer, nas imagens estáticas do passado eternizado. Vasculhei, como quem devora o tempo e o faz retroceder, as folhas dobradas, vincadas e talvez amarelecidas [nunca sei se a imagem está turva], os sentimentos, os segredos trocados, a inocência, a eterna forma do meu amor. Mudei, sinto-me tão mal... Desculpa, não conseguirei, quebrei a promessa [sabes, aquela de que já nem te lembras!], mudei!

mudeiMUDEImudeiMUDEI
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Oh, como mudei! Quero dizer-to tantas vezes, rodopiar sobre cada sílaba, morder cada entoação até que não faça mais sentido, até que se perca dentro de mim e que tudo volte a ser como era. Era tão feliz contigo, era tão livre, era tão grande... Foste embora e não voltaste. Deixaste o fantasma pendente no canto do meu quarto, não sei se disso te lembras, sempre a olhar para cima, sempre preso ao céu que no meu tecto inventámos. E o parque dos poetas? Nunca mais lá voltei... Tenho receio que seja como eu, invariante ao tempo devorador de sonhos e promessas. Quero que seja como dantes. Às 15h encontramo-nos lá, pode ser? Vamos para debaixo da palmeira dos segredos e ficamos assim deitados de barriga para cima, sempre de barriga para cima a ver a Terra rodar. Um beijo assaltado pelo vento, um abraço cortado pelo sol quente e os teus olhos. Ai, os teus olhos!
Mas tu aproveitaste mais que eu. Eu dormi enquanto tu ficaste a ver-me dormir. "Eu aproveitei mais que tu!" e eu chorei... mais que tu também. Andei, voei para bem longe de mim com asas feitas do pó que se instalava no ar. Pouco me mexia, não vivia, subsistia!

E hoje, como sempre, é a tua imagem ainda presa no no meu quadro de cortiça que me responde à lágrima cremosa que se vai desprendendo no meu olhar. O mesmo poema, o mesmo ângulo na fotografia, o mesmo coração. E à volta foram-se criando, instalando novas imagens, sempre à volta, nunca no centro. Porque o centro é teu mas tu entendes. O centro é teu! O resto.. O resto ainda não sei.

domingo, março 20, 2005

Lost

lost

Caminhamos, devagar, sobre o emaranhado do mundo a nossos pés. Tudo tão perto, tudo tão longe... A cada passo um sorriso solto, um salto, uma gargalhada acesa sobre as palavras sempre trocadas no silêncio dos nossos olhares. Em cada ruela uma frase segredada, um segredo escondido, um abraço apertado. Em cada abraço a força dos corpos, a tentação.
Caminhamos pela noite suja de mundanos entorpecidos pelas luzes da enorme cidade, andamos, como quem flutua num mundo à parte, sobre nuvens e carneiros de papel, sobre binquedos e cavalos de corcel. Não temos mais idade para isto... crescemos na inevitabilidade do tempo que corre. Não temos idade para isto!
Mas é tão bom quando nos perdemos num canto obscuro dessa enorme sala de brinquedos, nos ouvimos, nos tocamos, somos um! Quando, em frases sem lógica alguma, nos entendemos, sorrimos como loucos, nos deitamos e assim ficamos, presos à leveza das nossas palavras, tão fugases, tão breves e tão pesadas no meu céu estrelado. É tão com perder-me contigo!...
É estranho, quando me lembro de ti recordo sempre primeiro um momento em que, deitados no chão do ginásio, ficámos em silêncio. Porque às vezes as palavras são inúteis! Deitados de cabeça junta, o tecto branco à nossa frentes e as bocas fechadas num silêncio que de tão confortável se tornou memória. Talvez naquela ausência estivessem as palavras que não foram ditas nunca, os passos escondido que levaram à loucura enquanto caminhavamos, devagar sobre o emaranhado do mundo a nossos pés.

E gosto tanto de me perder contigo...

sábado, março 19, 2005

Ai, os sonhos!

Ah, está bem. Foste embora! Rumaste para norte no meio da minha tempestade , já nada faz mais sentido. Nada fez sentido! Não vais sozinha, já levas amarras e nós de marinheiro, daqueles fortes que ficam desengonçados quando não se sabe a técnica correcta para os apertar com força. Tens as amarras soltas.
Descanso do teu constante marulhar dentro de mim, da tua constante melodia a soprar pelo ar. Descanso dos teus olhos, da tua vida e dessa tua morte senpre inventada, tal eterna romântica que morre de amores sem nunca morrer. Pior que isso é não voltar a renascer das cinzas, querer ser outra, ser maior e mais forte, ser outra coisa, outro local, outra memória e outro sentido. Isso é pior!
Já não te oiço cantar, porque paraste? Gostava desse timbre constante, dessa tua subtileza na voz que tão poucas vezes ouvi. Sei lá, gostava da tua necesseidade do meu abraço, da tua fragilidade perante o mundo, perante mim... És tão frágil... Tão bonita.
Bem, eu fico ao centro caso queiras voltar. As chaves continuam onde as deixaste, por cima do teu caderno velho e esfarrapado [desculpa, não resisti a arrancar-lhe algumas folhas, aquelas dos desenhos, do meu nome escravinhado quando ainda só do meu nome sabias]. A tempestade há-de continuar, procura a turbulência, sabes que sou eu o criador, de sonhos, de tormentas, de dor e de terror. Crio tudo e não sei como lidar com isso. É tão perfeita a natureza! Por isso precisava de ti, para lidares comigo. Mas não resistimos, sucumbimos e foste para norte [se calhar foi para o sul. Não interessa, eu estou no centro, já sabes!].
Estás a ver as estrelas? Desculpa, não podem continuar tuas, não tas vou soprar mais, vou guardá-las tipo homem de negócios do meu amigo eterno. Posso não saber que lhes fazer mas pelo menos são minhas. Ou talvez não!... agora, se me permites, vou andando para cima que tenho sonhos para terminar, páginas para escrever, magia para espalhar. Se sentires frio olha para cima ;) Pode ser que eu esteja a passar por ti. Se me vires, peço-te, chama por mim, canta-me de novo naquele timbre delicado com que nunca me cantaste, aquele dos sonhos que criaste em mim, das ilusões, dos sonhos.
Ai, os sonhos!

quarta-feira, março 16, 2005

Lonelly

Sinto-me longe do mundo, longe de tudo o que nos pode prender, longe das pessoas, das coisas. Sinto-me flutuante sobre o universo, sem âncoras ou amarras que me possam abraçar contra algum local, sem peso ou condição, sem algo ou alguém... Sinto-me sozinho.
Vagueio pelos rastos do mundo à sua passagem, não o acompanho, deixo que me ultrapasse, deixo que não se prenda nos meus poros como suor ou vapor vital, deixo-o seguir, sempre, sempre mais longe. E então eu fico, atrás, na sombra da noite devoradora dos sonhos, criadora dos medos, dos sussurros absurdos, dos derradeiros segredos.
Sinto-me de lado, desnecessário, mudado... "Nunca mudes!", e custa tanto saber que mudei, saber que sou vento em vez de terra, flor de raiz desenterrada. Ah, sinto-me longe de tudo e de todos. Sinto tanta falta de um ombro amigo sem sequer saber o que a falta me produz, sem seuqre sentir a falta, sem sequer saber que falta sinto!
Culpa minha, minha culpa! Só queria um braço alegre que me agarra-se e me prendesse, que me aumentasse, que me excedesse!
Ò meu terror, que cada dia te torno mais real!

terça-feira, março 15, 2005

Devaneios

Ai, doces beijos que no teu corpo deslizava
Esses brandos caminhos nunca desbravados
Nunca possuídos, nunca trabalhados...

Esse teu doce mel que do teu corpo escorria
Pelos teus seios, no teu ventre em melodia
E em minha boca desaguava, tal beijo, tal desejo...

Tu. Núa em meu redil, em mil pedaços de papel
Em mil cores, mil sabores! Rainha de um pagão
Dona de mil e um sem nenhum senão!...

Ai, doces beijos que no teu corpo deslizavam...
Nestes meus sonhos, dementes devaneios
De passados já perdidos e futuros sempre alheios.