Já os nossos corpos mergulharam juntos por entre esta selva de luz roubada, em movimentos perfeitos, em voos alados, numa dança sem fim no centro de um palco sem público. Deixar correr agora cada gota na janela baça... Que desperdicio!

domingo, dezembro 28, 2014

Talvez tenhas mesmo decidido bater o pé no chão e ficar
Enquanto eu corro desacelaradamente para longe do abismo que nos separa
Sem saber como voltar atrás.

Não há música nem luz.
Mas há a promessa [vã?]
De um amor irrealizado.

domingo, novembro 30, 2014

Comigo o tempo corre mais lento que o normal, eu sei. Sei que cada segundo demora o tempo que o teu cérebro demora a descodificar o cheiro desumano da minha pele; o tempo médio que os teus neurónios demoram a explodir entre eles numa sinergia orgânica de um orgasmo elétrico que te faz salivar, devagar mas abundantemente, para dentro de mim.

Comigo o tempo não tem lugar: é inconstante como se os fotões decidicem  tomar o caminho mais longo a percorrer a curta distância entre a minha boca (entreaberta) e os teus olhos pejados de outono só para poderem apreciar o caminho um pouco melhor, como se soubessem que o tempo (inexorável) não se repete nem se copia para nunca permitir que tudo volte ao que já foi. Movem-se à velocidade do bater das tuas pestanas, percebi hoje... E percebo-os tão bem!...

Comigo o tempo passa mais devagar porque o teu braço teima em não me abraçar quando o meu corpo pede por ti a meio da noite e a distância que separa os teus poros dos meus é a do suspiro que exalo quando te beijo tão devagar quanto os meus músculos me deixam sem me deixar estático em ti.

O tempo... O tempo é o vazio preenchido dentro de mim quando decides permitir-me dentro de ti, os segundos largados nos teus lábios esfomeados de outra coisa qualquer que eu ainda não desvendei e que trazes embrulhada dentro do teu peito sedento de uma qualquer outra coisa que não eu.

O tempo é a distância infinita entre mim e o teu coração escondido de mim, entre o teu peito e o meu beijo,  entre os teus olhos e o meu corpo, entre as minhas mãos e a tua pele... Ai, são os segundos dentro dos minutos e horas de demoro a tentar, só tentar, tirar-te do céu da minha cabeça! E não consigo...

Sim, comigo o tempo corre mais devagar que o normal, como se eu quase pudesse pará-lo para não o deixar escapar, como se o quisesse tatuar na alma para não escapar mais; como se já soubesse que não vou voltar.

segunda-feira, novembro 10, 2014

Cor-das-folhas-prestes-a-cair

Afaguei-te o cabelo cor-das-folhas-prestes-a-cair e, sem me deter, beijei-te a vida inteira como se me afogasse em ti.

segunda-feira, outubro 20, 2014

[24/06] Fechado

Fechei-te em mim como se  guardam os segredos, sem lembrança ou recordação que te possam fazer voltar. Não te conheço já os gestos nem os jeitos, os tiques nervosos, o olhar cheio de quem traz o mundo no coração... Não te conheço mais a voz, as mãos, os dedos que escreviam o tempo com a tinta da vida esguia que te perseguia; o olhar lânguido que morreu quando te escondi.

Fechei-te em mim para não te ver, para apagar o caminho de flores que percorridas aos saltos despreocupado. Fechei-te em mim para me encontrar, para te perder,para não te saber. Fechei-te em mim para não mais te ser.

terça-feira, outubro 07, 2014

Dois passos

Passo.
Passo.

Imóvel, caminho até ao canto, até ao limite a partir do qual a queda é inevitável e lanço-me, de braços abertos, sobre o mundo a preto e branco.
O ar desliza na minha pele como as tuas mãos no meu coração [estrangulador, áspero, doloroso ] e abre sulcos nas barreiras que construí para nunca mais te deixar entrar enquanto me deleito com as memórias do que fomos cá dentro. E já fomos tanto eu e tu!...

Já fomos todo o tempo antes do tempo em que aterro agora na paisagem dura e vazia com a cabeça desfeita [ mais desfeita que o coração ] e os braços esmagados para não mais te abraçar.

Já fomos todo o silêncio antes do silêncio que agora se faz eterno dentro de mim para nunca mais te ouvir a voz.

Já fomos toda a vida, todo o futuro, todos os planos, todos os três... Todos os três, os três!!! Já fomos mais que eu e tu, mais que nós...!

[ fui mais que eu ]

Já fomos o todo para agora acabar assim neste vazio, neste chão frio onde me espalho e me espraio para tentar abarcar o mundo e o pintar de mim próprio enquanto latejo por dentro pela úl-ti-ma vez.

Imóvel, reconstruo a barreira de sulcos abertos pelo ar; desaperto os punhos fechados na testa e caminho.

Passo.
Passo.
Para longe deste lugar.

segunda-feira, setembro 22, 2014

Abismo

Escondi-me de mim próprio
Num abismo que inventei
Para não mais me ouvir.

Colei as mãos aos ouvidos
Ensanguentados de gritos e desvarios
E larguei a língua onde, um dia,
Esteve o meu corpo, o meu ser, o meu eu.

E Morri:
Larguei-me os dedos dos punhos
Mordidos na boca que não mais poderá falar;
E os olhos, fechados de tão escuros, sem luz;
E os pés cansados da lama, do caminho, de mim,
De ti,
De nós,
Do mundo!


Sozinho não serei mais do que nunca fui.
Não serei menos.
Não serei mau, não serei bom.

Fim à opinião.
Fim ao amor e à paixão.
Fim!

Este fim, sozinho...
Aqui:
Neste abismo que inventei para não mais me ouvir.




domingo, setembro 21, 2014

Cold heart

Quentes, as tuas mãos descem lentas sobre a minha pele gelada de emoção. Não te agarro, não te beijo. Não abro os olhos, fechados como as crianças a fazer de conta. Leves, os teus pés percorrem os dois metros que levam à saída como se fossem milhares de passos pesados de nada, como se o vazio pesasse [pesa?]. E sais. Sais sem olhar para trás. Sais sem uma nota ou um suspiro porque sabes que, quando voltares, me encontras no mesmo sitio: gelado, meio morto, de olhos semicerrados.