Já os nossos corpos mergulharam juntos por entre esta selva de luz roubada, em movimentos perfeitos, em voos alados, numa dança sem fim no centro de um palco sem público. Deixar correr agora cada gota na janela baça... Que desperdicio!

sexta-feira, janeiro 28, 2005

Beber-te em sufoco

Tenho sede da tua carícia aveludada,
Desse lânguido escorrer pela minha pele,
Do cetim dos beijos , derrocadas de mel!...
Oh!, tenho sede da minha alma abraçada,

Sede do teu mundo de pesadas portadas
Das escuras palavras à lua exorcizadas...
Do teu coração ao teu peito pendente...
E dessa volúpia, desse corpo demente!

Quero beber-te num sôfrego morder
Bailar-te nas minhas mãos,
Ver-te renascer!...

Engolir-te neste enorme sufoco
Derrubar distâncias...
Criar-te ânsias...

E ter-te aqui...
Fazer-te abraço e beijo e carícia.

Oh!,Tenho sede da tua vida.

quarta-feira, janeiro 19, 2005

"Persegue-a"

"Persegue-a" Gritou-lhe a voz da consciência... será que nem ela sabe o que me vai na cabeça?
Não a posso seguir... Ela não me pode seguir... Não nos podemos consumir mais nestes momentos de prazer tardio e lamentos madrugados pela falta que nos fazemos um ao outro.
Hoje estou triste. Triste porque as coisas estão bem e no entanto não estou bem com elas. Parece que podemos estar piores quando tudo corre bem. Será a falta de algo? Não sei... E sigo pelo caminho cada vez mais enlameado, pelos pedaços de cristal quebrados no tempo. Cada vez mais pedaços... São tantos..
Pedaços de cristal
Tantas recordações dentro de mim,
Pedaços de cristal
Quebrados no abismo do tempo,
Uns que se perderam,
Outros que se encontraram,
Momentos marcados na alma de um poeta.
São tantas as presenças,
Lembranças de um passado,
Desejos de um futuro ainda por colorir
Cheio de sonhos, odores e sabores,
Palavras eternas no meu eterno céu azul...
Tantos amigos, tantos amores,
Uns que se perderam,
Outros que se encontraram...
No tempo líquido do meu olhar,
Flui cada um de vós...
Meu passado, criador do meu presente,
Eterna lembrança do meu futuro...
(Para todos os que marcam a minha vida... TU...)
Marco Mercier
Escrito em 2003-05-03

sexta-feira, janeiro 14, 2005

Inferno

E então ela foi. Saiu devagar pela porta iluminada pelos nossos beijos de sempre, aqueles que nunca se consumam mas que sabem sempre a pouco. Não me deu um beijo nem um abraço. Não me consolou com o timbre delicada que lhe corre pela voz. Não me cantou ao ouvido o seu amor...
E foi. Como quem escapa finalmente do inferno ... que lhe ofereço sem me recordar de o fazer. Eu... Eu fiquei acocorado junto à cama à espera que ela voltasse para me dizer que estava a brincar. Tantas foram as vezes que eu fiz isso, brincar com os sentimentos dela, testá-a ao mais ínfimo pormenor, sei lá, como quem quer ter a certeza que possuí alguma coisa. E sou sempre tão estúpido! Possuir... essa palavra deveria ser riscada do mundo. Não a possuia, nunca a possuí! Talvez porque não queria, apenas isso. Ou talvez pelo medo, pelo incerto, pelo receio, por mim, por ela.
E então um dia ela foi. Levantou-se devagar da cama fumegante do nosso calor e dirigiu-se à porta do quarto dos eternos fantasmas. Olhou para trás e disse-me apenas "Eu e tu somos um eterno adeus" e foi... Como quem escapa finalmnete do inferno que eu lhe ofereci.

domingo, janeiro 02, 2005

Confissões [I]

Ah!, não te saber virgem na minha mão.
Não te possuir primeiro que o mundo,
Antes de todo esse anoitecer imundo
Que te quebrou na mais pesada solidão!

E como queima a recordação esquecida
De todos os lábios beijados em segredo,
De toda a ladainha gasta e desmedida...
Oh!..., como me afogo neste azul medo...!

Confundo-me nos sentidos do teu passado,
Naqueles passeios de luz e algodão doce,
Nas paixões sangradas do tempo cansado.

E quebro-me nestes abraços repetidos,
Nas confissões eternas deste amor renovado...
Em toda a delícia dos nossos beijos apaixonados...