Já os nossos corpos mergulharam juntos por entre esta selva de luz roubada, em movimentos perfeitos, em voos alados, numa dança sem fim no centro de um palco sem público. Deixar correr agora cada gota na janela baça... Que desperdicio!

terça-feira, outubro 06, 2015

Congelo

Lenta e ligeiramente o meu corpo começou a congelar. Não entendi onde começou: se foi nos pés que se tornaram chumbo ou na ponta dos dedos das mãos que se seguravam a elas próprias, só sei que o frio começou a entrar. De fora para dentro. Achei que seria normal, que o gelo seria uma reação natural do descalabro que se passava dentro do que já tinha sido e que n\ao voltaria a ser nunca mais. Achei que era assim mesmo, que gelaria até derreter novamente. Mas não. Só congelei.
Os meus pés deixaram de sentir a terra debaixo deles enquanto caminho pesadamente pelos nossos caminhos d'outrora e os meus olhos pararam de avaliar a distância infinita entre estrelas de quem ninguém quer saber ao mesmo tempo que os meu peito deixou de respirar o mesmo ar. Sim, não é claramente o mesmo ar que me preenche os pulmões em cada ciclo viciado, não pode ser! Antes... enchia. Agora esvazia!
No meus dedos não sinto mais calor ou pele ou vertigem ou arrepio ou amor ou

quarta-feira, setembro 16, 2015

Dancei para ti quando os teus braços eram meus.

Finjo que o teu corpo me pertence
E danço com os teus braços cor de mel. 

Não me movo graciosamente 
como imaginava que te movesses: 
cada perna é um tronco 
e cada passo um desassossego.

Avanço a dedilhar o tempo 
e os cabelos cor-de-vazio
com as tuas mão pesadas
de nada a transbordar.

Finjo que o teu corpo me pertence
E abraço-me de novo para sentir
O meu corpo nos teus braços
(Que são os meus braços 
A abraçar-me a mim.)

Não me sinto.
Não te sentes.
E eu já não sou teu.

Finjo que o teu corpo é teu
(como se de outra forma pudesse ser)
E danço sem os teus braços cor de mel.
(Para sempre.)