Já os nossos corpos mergulharam juntos por entre esta selva de luz roubada, em movimentos perfeitos, em voos alados, numa dança sem fim no centro de um palco sem público. Deixar correr agora cada gota na janela baça... Que desperdicio!

domingo, dezembro 11, 2005

Nada

Morderam-me o peito, só pode ser isso. Arrancaram um pedaço enquanto dormia. Abriram devagar a porta, como se cada gesto fosse em staccato, e , pé-ate-pé, chegaram até mim. Não dei por nada... Só o vazio...

Morderam-me o peito e sorveram-me a vida. Rasgaram-me na pele a forma do nada como se o nada tivesse forma na geometria do vazio que se sobrepõe a tudo na vida. E deixaram-no lá assim... sozinho naquele pedaço vazio. Nada.

Tempo para ti

É o vazio das horas redondas que me prende em ti;
São os retalhos de nada que se acumulam em pedaços de um todo maior que o tempo;
São as palavras numa folha nua que se enruga na mão e se deita fora.

É o vazio, o tempo, a minha mão na pele do teu peito;
São os murmúrios do vento na janela a gemer devagar;
São as lentas lágrimas que se passeiam pelo vidro embaciado;

São o beijo e o abraço que mais ninguém abraça,
Os sorrisos... os entrelaços...

Sãos os dedos enrolados em torno da espiral do teu corpo;
São a tua pele e o teu encosto;
São o vazio... são o tempo e o abraço... o abraço, sempre o abraço.