Já os nossos corpos mergulharam juntos por entre esta selva de luz roubada, em movimentos perfeitos, em voos alados, numa dança sem fim no centro de um palco sem público. Deixar correr agora cada gota na janela baça... Que desperdicio!

segunda-feira, abril 04, 2005

Incertos caminhos

Trago-te pelo pescoço, como quem traz a vida pendurada ao peito. Demoro-me em ti, sem nunca reparares, na minha forma leve e banal de cruzar este meu olhar com o teu. Fico. Repito. Escuro. Claro. Dentro. Fora. Mas sempre mais fundo, mais fundo dentro de ti. Por tudo o que é pequeno, pela incerteza dos nosso sentidos - onde tudo é realmente incerto. E fico aí, no mais fundo de ti, onda és apenas tu longe do mundo, vazia de tudo o que te faz perder, perdida do mundo que nem sempre nos faz sorrir. Mas no nosso mundo sorrimos sempre, não é? O som inconfundível das nossas gargalhadas, as tarde solarengas sentados num salão de chá. Eu com o novo chá branco. Tu com a vista trocada pelo álcool que ainda te morde. E as vozes, as palavras sempre trocadas. Os passeios onde tudo se move menos nós. Flutuamos um no outro, sempre os dois, devagar por entre o universo em torno de nós. Estive a pensar... "Teoria do Clarcocentrismo". Sim, porque eu sou físico, tenho de pensar em tudo o que os outros não pensam. Na velocidade do vento, não ele levar-te para longe, na energia irradiada pelo sol, na tua termodinâmica sempre fora do equilibrio. Eu tenho de pensar em tudo o que mais ninguém pensa. E nunca o conto a ninguém... Só a ti. Tu, que me ouviste nas ondas e fotões do sol que nos queimava a pele no "Adamastor" e me levaste [ou fui eu?] a "Copenhaga" para esquiar um pouco. E esquiar é como nós. Só quando já não soubermos onde estamos saberemos a velocidade com que lá chegámos. E aí, só aí pensaremos... À mesma velocidade com que esquiamos. Os dois. Juntos de novo.

1 comentário:

Anónimo disse...

"Demoro-me em ti, sem nunca reparares"

[também tenho o direito de começar por um pedaço teu?]

Pois não, nunca reparo... mas há algo que já nao prendo (ocorre-te porquê?). Subtil se ficas. Muito subtil se repetes. Eu fixo. Flutuo muito em ti puxando-me do que não me faz rir para entrar no meu album de colecções que vai ensurdecendo com gargalhadas, cegando com imagens. É bom ter alguém assim. Tu. E como os meus lábios suavizaram hoje com as tuas teorias... Oiço-te sempre, bebo sempre as tuas palavras. Guardo sempre os teus ensinamentos. Não esqueço nunca.

As nossas tardes solarengas.