Já os nossos corpos mergulharam juntos por entre esta selva de luz roubada, em movimentos perfeitos, em voos alados, numa dança sem fim no centro de um palco sem público. Deixar correr agora cada gota na janela baça... Que desperdicio!

quinta-feira, abril 21, 2005

Pequenas-coisas

É fantástico como as pessoas mudam, como tu mudaste. Devagarinho vai-se o interesse, vão-se a preocupação e os pequenos pormenores, as pequenas coisas. Vai-se tudo afundando no mais profundo segredo até que, sem mais ar, me afogo por dentro e rebento por fora. Secam os beijam, escasseiam os abraços e vai-se tudo, tão devagar quanto te foste.
Magoo-me assim, pensando, macerando o meu corpo com dores psicológicas até não aguentar mais. Não te quero perder mas tenho receio que... Haja mais lá fora. Alguém que me recorde, que me anseie em tudo o que faço, que me devolva os pedaços que foram espalhados, estilhaçados pelo tempo. Alguém que me refaça, que me destrua e me renasça! Sei lá, tenho receio que haja mais, algo mais. Um interesse pelo que digo, pela termodinâmica que odeio, pelo estado sólido, pela equação de Schrödinger!... Pelo que escrevo. Quer dizer... toda a gente acha muita piada ao que escrevo ao início. Até que, miraculosamente, se escquecem que escrevo. Será que despareço num qualquer instante e me torno outro? Que foi que te fiz? Onde foi que me anulei? Ah, perguntas retóricas, não podiam ser de outra forma. Não me lês. Eu não te aviso que escrevo. Passa-te ao lado. Como os meus pequenos "eus", as minhas pequenas coisas.
Ganhar um campeonato, chegar a casa. A minha irmã viu. Pelo menos ela! Viu-me o David, e mais gente, mas a minha irmã é de propósito, vale mais. Outras esquecem. Olham para a taça grande, sentada no topo do meu guarda-fatos, e nem ousam questionar de onde vem. É como se sempre lá tivesses estado mas nunca nele tivesses reparado. Que engraçado, como eu me sinto pequeno quando penso assim. É terrivel!...
Esquecem-se os pormenores e, sem dar-mos por isso, escapam-se os sentidos, de mansinho [e como esta palavra o descreve tão bem]...

domingo, abril 17, 2005

Sonho quente

Ah, afinal era mentira! Nem paixão nem alegria, nem felicidade, nem magia. Dei-te asas, fiz-te sonhar. Quiseste-me o corpo mas não o olhar... eram os olhos de verde pintados, as mãos de porto seguro, os desejos, os sonhos... Sempre os sonhos! Não consegues reparar que também que preciso sonhar? Dá-me vida, dá-me ar. Faz-me suspirar! Mas não.
Afinal era mentira!... Nem beijos, nem abraços. Nem amarras, nem cansaços... Só tu! No desespero de um sonho quente, que te tão quente ser m'ia incendiando. Mentira, mentira...

sexta-feira, abril 15, 2005

Não me deixes cair

Agarra-me enquanto eu caio! No fundo, mais fundo... Abraça-me contra o teu peito! Uma mão no ombro, outra no meu cabelo. Lágrimas, murmúrios, soluços sempre no teu peito. Faz-me seguro, torna-me outro! Faz-me maior, longe de mim, longe de tudo o que me faz perder os pedaços que eu mais sou. Longe do mundo azul de laranja sarapintado, dos olhos cinzentos de quem tão cinzento se pinta, dos segredos por dentro, dos sorrisos por fora!
Abraça-me como um sonho. Não me deixes cair! Faz-me de novo. Molda-me na tua mão desenhada, rasga-me em pedaços e cola-me em retalhos, por favor... Leva os laivos de loucura, as vestes de tristeza e as máscaras dos sorrisos. Leva-me...

segunda-feira, abril 04, 2005

Incertos caminhos

Trago-te pelo pescoço, como quem traz a vida pendurada ao peito. Demoro-me em ti, sem nunca reparares, na minha forma leve e banal de cruzar este meu olhar com o teu. Fico. Repito. Escuro. Claro. Dentro. Fora. Mas sempre mais fundo, mais fundo dentro de ti. Por tudo o que é pequeno, pela incerteza dos nosso sentidos - onde tudo é realmente incerto. E fico aí, no mais fundo de ti, onda és apenas tu longe do mundo, vazia de tudo o que te faz perder, perdida do mundo que nem sempre nos faz sorrir. Mas no nosso mundo sorrimos sempre, não é? O som inconfundível das nossas gargalhadas, as tarde solarengas sentados num salão de chá. Eu com o novo chá branco. Tu com a vista trocada pelo álcool que ainda te morde. E as vozes, as palavras sempre trocadas. Os passeios onde tudo se move menos nós. Flutuamos um no outro, sempre os dois, devagar por entre o universo em torno de nós. Estive a pensar... "Teoria do Clarcocentrismo". Sim, porque eu sou físico, tenho de pensar em tudo o que os outros não pensam. Na velocidade do vento, não ele levar-te para longe, na energia irradiada pelo sol, na tua termodinâmica sempre fora do equilibrio. Eu tenho de pensar em tudo o que mais ninguém pensa. E nunca o conto a ninguém... Só a ti. Tu, que me ouviste nas ondas e fotões do sol que nos queimava a pele no "Adamastor" e me levaste [ou fui eu?] a "Copenhaga" para esquiar um pouco. E esquiar é como nós. Só quando já não soubermos onde estamos saberemos a velocidade com que lá chegámos. E aí, só aí pensaremos... À mesma velocidade com que esquiamos. Os dois. Juntos de novo.