Já os nossos corpos mergulharam juntos por entre esta selva de luz roubada, em movimentos perfeitos, em voos alados, numa dança sem fim no centro de um palco sem público. Deixar correr agora cada gota na janela baça... Que desperdicio!

sexta-feira, dezembro 31, 2004

Quero tudo

Não quero esse mundo apertado na tua mão,
Nem sussurros perdidos em vales profundos,
Nem esse sorriso forçado pesado de solidão...

Não quero a lua branca das noites de magia
Ou a leveza do vento doce e Outunal.
Não quero os sonhos, farta-me a fantasia!...

Nem os murmúrios do mar à noite,
[Perenes de saudade e paixão e amor]
Nem o tiritar da chuva na janela fechada
Ou o cheiro frio da terra molhada...

Não quero uma rosa ou um lírio.
[Nem negro, nem vermelho]

Quero-te essa pele fértil
A lucidez do teu coração!
Dá-me beijos soltos,
Abraços talhados a mil!...

Quero tudo, quero-te a alma!...,
Não quero esse mundo apertado na tua mão!

Não te chegam...

Não te chegam o meu corpo e o meu sexo
Crivados no rascunho da tua pele em mim
Com a leveza da pena desse mundo anexo
A tudo o que sou, estou perto do fim...

Não me apertes os punhos cerrados de medo
Mantem-nos soltos no embalo do teu segredo!

Solta-me o corpo e a voz e o sexo!...
E os punhos e as mãos e o cabelo
Que dos meus olhos correm fios de oiro
E na boca trago a alma mordida em desassossego.

terça-feira, dezembro 21, 2004

Sede casta

Gosto quando me perco no teu sorrir
Nos retalhos que deixas, luminosos, por aí;
Quando deliro nos teus beijos
Quando me enterro no teu peito
E não me deixas mais fugir.

Gosto quando as horas passam
[Musas de apaixonados inquietos]
E me manténs preso num teu abraço,
O teu corpo no meu, a nossa pele núa,
O meu braço fechado, a chuva na rua...

Gosto quando me amas...
Quando as madrugadas são insanas
E os nossos corpos unidos de sabores.

Gosto quando te calas e o silêncio nos abate...
Quando sei que, na verdade,
O meu olhar apaixonado já te basta
E que és porto seguro, minado de sede casta.

domingo, dezembro 19, 2004

sábado, dezembro 18, 2004

Cordel do mundo da fantasia

Gostava da certeza do mundo quando era criança. Da magia de um beijo na cara, da promessa acreditada de uma mor profundo e verdadeiro. Gostava da certeza de uns braços para me aconchegar, da certeza de uma mão no calor de uma lágrima caída... Quando era criança.
Quando foi que me perdi de mim mesmo? Quando foi que me larguei na ponta do mundo para nele me atirar de cabeça? Ainda ontem te beijava os lábios com a certeza do mundo a construir, com o sorriso das crianças, as gargalhadas... E hoje já me sufoco em dúvidas constantes, em desforos do coração. Talvez tenha sido há pouco tempo, ontem, que me perdi do cordel do mundo da fantasia, que fugi da Terra do Nunca, que cai do país das maravilhas...
Leva-me de volta. Faz-me acreditar... Por favor [não sei estar assim]

Pecador[a]

Temo pela tua morte precoce, sou pecador...
Que te rasgues num momento de loucura
De dentro do peito onde te trago com amor;
Que do meu pecado te nasça a morte impura.

Noite selvagem, filha das lágrimas guardadas
Rainha deste maldito amor que nos incendeia,
Leva-me as mãos e não as delas [ensanguentadas]
Oh noite maldita!, leva o amor que me incandeia!...

Não serei pecador, ajuizado do destino cruel,
Serei cinza e vento e lágrima e esse teu ar,
Serei vítima da ira divina, enforcado num cordel.

Não serás mais violada de mãos virgens do meu corpo
Amordaçada de peito apertado num cepo já morto...
Serás pecadora original na consumação do nosso acto.

quarta-feira, dezembro 15, 2004

Silêncio profundo

Reencontrei-me nos silêncios que te escapam pelos lábios mudos
Que apesar de frios e mortos teimo em beijar incessantemente.
Reencontrei-me nos laivos de sangue que se espremem firmemente
Nos teus olhos vidrados de céu, de azul, de firmamento.. mudos.

Não te matei. Encontrei-te já morta! Rebolada pelo chão dorido
Coberta de rosas negras, de sorrisos perdidos, de beijos roubados.
A minha mão no teu coração... Quem me dera ter tambem morrido
Coberto de rosas vermelhas, daquele amor por ti tão desejado...

Foram as noites das estrelas fugidias, a lua no seu esplendor.
Foram as manhã de poesia corrida, as tuas lágrimas perdidas.
Foram os beijos talhados na tua pele, os sorrisos, o nosso amor.

Resta-me um beijo sangrento roubado desse olhar vidrado
Um abraço ternurento arrancado do teu peito crucificado...
E um sussurro, um berro e um silêncio profundo.

quarta-feira, dezembro 08, 2004

Não [penses que] te esqueci

Recordo-me das ondas vagarosas no teu cabelo escuro
Desse teu jeito pequeno e triste num sorriso sisudo.
Recordo-me das longas esperas,os meus passos rápidos,
Os teus olhos semicerrados que me olhavam de soslaio...

E o teu cheiro viperino em tardes nunca acontecidas
O teu corpo em andamento, a nossa pele em ressonância.
Aquele beijo doce e morno ao som da chuva lá fora...
O nosso beijo? Onde foi o nosso beijo delirante?

Recordo-me de ti nas manhãs dos comboios voadores
E naquelas noites de estrelas guardadas pela manhã
Na minha mão cor de terra delirantes dos teus suores.

Nas manhãs de sede branca, de tanta saudade apertada,
Nos murmúrios que lanças ao vento, que imploras à lua.
Recordo-me de ti, não penses que já te esqueci...