Já os nossos corpos mergulharam juntos por entre esta selva de luz roubada, em movimentos perfeitos, em voos alados, numa dança sem fim no centro de um palco sem público. Deixar correr agora cada gota na janela baça... Que desperdicio!

quinta-feira, junho 24, 2004

Adeus

Sabes bem o que me custa ouvir-te dizê-lo. Sabes bem que nunca o quero ouvir quando vais, ou quando o dizes para me entristecer... Porquê deixar-me mais triste? Já vivo tão triste quando não estás...
Massacram-me os telefonemas vazios, tempos calados à espera que alguém fale, que se diga algo, parece já não haver nada dizer, é tão estranho, é tudo tão estranho. Meio vazio. Será grave não dizermos nada?

Vou voltar à energia reticular e à hibridação de órbitais atómicas, essas pelo menos, posso não as perceber mas nunca me dizem adeus, fazem questão de me olhar de lado, assim mesmo de lado, olhar de desdém para que eu veja como são boas. Se calhar nem são reais! Mas há quem viva bem com isso... Eu não vivo bem com os teus "adeus" mesmo quando são apenas para me magoar. E magoas-me tanto...

segunda-feira, junho 21, 2004

Podes dizer que me amas?

Só mais uma vez. Oh, prometo ser a última sabendo que vou mentir. O mel dos teus sussurros debaixo dos lençóis, é por ele que vou morrendo devagar. Espraiam-se os sussurros na infinita recordação dos nosso infinitos beijos, os momentos em que os teus lábio se abrem para me amares, quando me sugas para ti, e sou teu, sempre teu, como sempre fui (mesmo sem saber).
Se me amas, porque é que tenho isto cá dentro tão doloroso? Tira-me isto daqui já, arranca-mo, rasga-me a pele, rasga tudo de cá dentro, rasga as páginas passadas, cala o cânticos das sereias (metade mulher, metade baleias) que eu estou a dar em louco. Entoam em notas aliadas ao resplendescer de uma super-nova, devagar continuamente, dolorosamente. Mas levam-me, prendem-me as sereias para longe dos teus sussurros. são ciumes, puros ciumes. Sim, é tudo meu!... Ou não... Não sei, nunca me mostras tudo.

Estou cansado de ver o geral do teu dia banal, estou farto de não te ter para conersar, passas tanto tempo com a boca fechada. Nunca pensei que uma boca fechada pudesse magoar, como é que o fazes? Porque nunca me contas os pormenores?... Só queria saber-te dentro de mim, ou saber-me dentro de ti, ai que confusão.

Olha, podes dizer que me amas? Mas assim... devagarinho, como fazem as ondas do mar na praia da torre, em sussurros pequeninos e continuos, em beijinhos nos meus pés.

Nunca me beijaram os pés, nunca lhes tocaram a sério. Será preocupante? Nunca me amassaram os pés por amor, sei lá, por vezes... Não, já fui amado sim. Os pés... coitados dos meu pés. Nem sabem o sabor quente dos teus lábios! nunca lhes tocaste sequer... Mas eles anseiam pelo teu sabor, eu anseio por ti, tudo anseia por ti, o meu mundo perdido no teu sorriso de criança. Agora ris mais. Dantes rias menos.

Vá, diz que me amas enquanto almoças comigo, ou quando tomamos banho, prometes que tomarás banho comigo? Eu deixo-te veres-me fazer a barba, é uma coisa tão profundamente íntima para mim. Deixo-te rires-te das minhas caras quando me magoar numa borbulha qualquer, prometes? Dás-me tudo para viver mas é de ti que vem a morte dos sentidos, não consigo perceber. Talvez um dia, num dia assim de chuva e de outono, quando as folhas caem todas em danças aleatórias pelas ares dourados e cinzentos.
Como eu gosto do Outono, deixa-me sempre feliz passar num rua cinzenta e saber que mais tarde ou mais cedo um rasgo dourado me vai percorrer o olhar. E é o saber que tudo muda, que tudo cai para voltar a nascer que me faz assim querer-te mais. Cai tanto para te alcançar... Ama-me, diz que me amas quando as folhas cairem todas. Diz...

Só mais uma vez. Prometo ser a última sabendo que estou a mentir...

Medo...

Não há nada aqui, meu amor. Nada que nos prove, nada que nos incrimine os actos sagrentos de amor e paixão... Nem uma simples fotografia... Nada que nos possa prender, nada que nos possa guiar, nada para nos afogar ou fazer respirar. E estou confuso.

Ali, sentado no canto do meu carto de sombras pintado, choro as estrelas que se apagam. Correm pérolas preciosas pelo meu lânguido rosto, medo de não te ter. Agarra-as por favor, agarra as pérolas com as palmas das tuas mãos, lava-me com o teu corpo! Leva de mim tudo... ou o nada em que me vou tornando... Mas leva-me.
A parede já está quente, o frio foi embroa numa rajada de vento que me passou ao ouvido (seria um murmúrio teu?) e aqueceu-me todo o ar que mes está agora a fazer delirar. O vemelho toma conta das sombras. Oh, é sangue! Mas não é meu... é o dela... e se... Oh, eu quero-te a ti... Leva-me daqui, tira-me do inferno de sangue, leva-me para o meio das flores, para o centro das tuas estrelas, agarra-me de lá, não me largues! Medo.

É dele, agora já sei, a culpa é dele! Vem devagar. Primeiro transforma-se na alegria de um beijo apaixonad. E como os nossos beijos são apaixonados, lentos, demorados, rasgados em cada pedaço para poderem ser saboreados. Devia ser assim? Parece que nos beijamos mais com medo do depois. Terei os teus lábios na minha testa quando morrer? Não quero morrer... Medo... é como se chama.
E vem devagarinho, apodera-se das entranhas entrelaçadas no mais fundo de mim, bem no fundo para eu não reparar e então esconde-se. Mas começa a subir, faz a corda pelas lágrimas que me escorrem no canto do quarto pintado com o sangue das sombras transformadass e sobe, devagar, tal ladrão à espera de te roubar de mim. E vem assim, pé ante pé para que eu não o veja subir e deixar marcar em todos o meu corpo (ou serão os cortes das lágrimas mais quentes?). Oh, como ele é perfeito na sua jogada, nem se mascara muito, sobe apenas devagar sem reparar nas passadas inquietas bem ao meu lado. Nunca lhe vi a cor, quando me aparece à frente já estou com a lente das lágrimas à frente, aquela lente que faz ver o mundo mais imperfeito, fica tudo tão desaparecido...
Veio agora mesmo fazer troça de mim. Caiu-me em cima do colo com a cara de gozo treinada para me fazer triste. Posso jurar que é azulado, mas não sei, está tudo tão desaparecido. Pára, por favor... Medo... Tanto medo, ele está aqui, pânico, medo... Quero-te...

Hoje sou eu que me corto em pedaços, porque tenho medo de não te ter por completo, apenas porque nunca te sei no meu olhar.

terça-feira, junho 15, 2004

"Se eu fosse a tua pele... Se tu fosses o meu caminho...

Se nenhum de nós se sentisse nunca sozinho..." e se, se, se... Se...
Se na cumplicidade do nosso olhar se encontrasse a chave... Se tudo fosse perfeito, se eu não fosse quem sou, se nada evoluisse, se tudo estagnasse, se os rios parassem de correr porque o mar está cheio... Oh, se tudo parasse!... E nunca foi por causa dela.
Mas agora que encontraste a tua razão, não ta tirarei, mas não te deixarei murchar.

NÃO TE DEIXAREI MORRER ROSA DO PRINCIPEZINHO


domingo, junho 13, 2004

Nem sei do teu amor

Não te vejo faz tanto tempo que já nem sei bem o que sinto. Não consigo distinguir a saudade da pequena dor que se vai acumulando ao seu lado, e abraçando- com uma força irregular. Não sei bem se isso é apenas meu... mas hoje dói imenso.
Já nada me chega, entorno-me numa mesa qualquer em delírios constantes, fraquejo perante as paredes nuas novamente, devaneio de novo em todos os passos que dou.. Já não me contento com nada, já não me cheham os telefonemas. Mas eles agora são tão curtos! As horas pasaram a pequenos minutos e daqui a pouco passam a instantes, a retalhos de conversas que se vão espalhar em mim como vulcões a arder. E estes vão doer ainda mais do que os que vão escorrendo até ao meu coração! Oh...
As horas passaram a minutos escassos, porquê? Explica-me. Não tens nada para me dizer... Nunca tiveste, nunca me disseste nada, mas as horas prolongavam-se e nunca o soube, nunca o imaginei dentro de mim. Mas os minutos vão passar a segundos? Se sim avisa-me, não sei quantos segundos mais aguento sem ti! E porquê...?

Um dia cansado, o sol já se vai pondo devagar, deixando pinceladas de pêssego no horizonte azul, e no fim de tudo não soube nada de novo, não me inventei, não criei, não te soube feliz, nem sequer te soube realmente. As palavras não saem na mesma, não é? As coisas nunca mudam... Mas como é que as horas passaram a minutos? Será da saudade abraçada no canto do meu coração? Ou será antes a dor?... aquela dor... Não quero escrever.

De nada vale... Todos o lêem menos tu, meu amor, só tu não o lês como eu. Escrevo para ti, porque sei que um dia os minutos passam a segundos ou instantes que se vão perder... E então eu não vou saber porquê, assim como nem sei do teu amor...

terça-feira, junho 08, 2004

Para ti, Filipa

Não pode esperar mais...
Gostei tanto de ti, gostei tanto dos teus abraços em Sintra por entre as árvores que nos sussurravam na voz do vento... "Mas esse teu mundo era mais forte do que eu" e nunca consegui tocar-te mesmo no coração, não digas que sim. Passei meses, troquei isso por anos, rastejei, implorei, eu chorei, Filipa, chorei quinhentas vezes as mil e uma palavras frias que me atiraste à cara, gritei todas as silabas, disse-te tudo o que pude, dei-te tudo o que tinha. E chorei.
Agora, talvez tarde, mudou. Mudei... E gostei tanto de ti... Mudaste e não sabes o quanto mudaste. E terás mudado o suficiente? Mas nunca foi por isso que deixei de te amar. Gostava da tua cara de desprezo quando falava da dança, do facto de não reparares que tinha ganho o campeonato nacinal de ginástica, que me doia a perna do treino anterior, "parvoices" como sempre lhes chamaste. E a raiva que me davas, a mesma que à noite se transformava na mais bela melodia que ouvia antes de adormecer. Magoaste-me tanto. Quando te riste nas minhas lágrimas, sentado no beiral da janela...
Adorava quando fazias um movimento com os lábios, adorava... Como ansiei beijá-los, tantas noites deitado de barriga para cima a tentar imaginar como seria, tantas noites perdidas no mundo que me fazias criar dentro de mim com o brilho do teu olhar, sempre com aquele sinal invulgar no teu olho. Nunca te disse mas tinha vontade de lhe tocar sabias? Não sei, acho que sempre te quis tocar... E quando, naquela noite da viagem de finalista, me permitiste a pele na tua vertiginosa face, talvez tenha recusado. Porque é que não me tocaste tu? Inseguro...
As tardes sentados nos campos de basket da nossa velha escola, as férias já em andamento, o medo que me esquecesses, e que medo mais estúpido! Nem sabias que te lembravas de mim, desprezavas-me tanto! Os nossos olhos por momentos colados nos mundos trocados dos nossos sorrisos, os brilhos num cruzamento único, num beijo tentado. E eu tentei (quantas vezes?) aquele beijo afortunado! Nunca permitiste. E as 15/16 anos falaste-me de banalidades, do forma como quarias o teu futuro, de que querias estabilidade económica e que querias isto e aquilo. Eras tão fútil... Deixaste-me tão mal, sabendo que nunca seria o certo para ti, porque de qualquer forma o beijo havia sido negado.
Sempre pensei (soube) que quando te apaixonasses a sério seria para sempre, acho que é assim com os leões, custa mas quando vem é com força (e tenho medo que assim não seja). E soube que não seria o tal...

Mas porquê referir isso agora? Foram 4 anos contigo a falar das minhas "paixões incessantes", e eu era uma criança. Oh, cai no ridiculo, desculpa, eu sou uma criança, desculpa... Mas foram quatro anos sem um sinal que eu pudesse dizer "sim, esta é a que eu quero", apenas o meu olhar triste preso no tecto do meu quarto a chorar por vezes as tuas palavras com falta de amor, as tuas palavras duras, as tuas amolgadas palavras que me atiravas cmo pedras a rolar de uma ribanceira. Foi tanto tempo que nem sei quanto passou... E eu gostei tanto de ti. Talvez fosse o teu olhar de criança aliado à tua força interior, sim, porque tu, no fim de tudo, tu foste a mais forte dos dois, eu nunca teria conseguido ter a pessoa que "amava" sem lhe tocar, nunca conseguiria estar assim, junto dela como nós estivemos juntos um do outro, sem lhe sussurrar ao ouvido "amo-te tanto...". Isso deve ser meu erro, nem todos parecem gostar de sussurrar.

Tu eras aquela que eu mais queria
Para me dar algum conforto e companhia
Era só contigo que eu sonhava andar
Para todo o lado e até quem sabe
Talvez casar

Ai o que eu passei só por te amar
A saliva que eu gastei só para te mudar
Mas esse teu mundo era mais forte do que eu
E nem com a força da música ele se moveu

Quero que saibas: Onde que que o futuro nos leve, porque... Mudámos tanto... onde quer que ele nos leve, eu saberei sempre onde é o banco em que te abracei em Sintra. Aquele pequeno banco degradado por debaixo da árvora, creio ser um plátano, com a vista para aquele campo... O nosso banco... *

segunda-feira, junho 07, 2004

Mais uma, apenas mais uma...

E se eu pudesse arrancava do céu a lua, porque é por ela que as lágrimas por vezes me rasgam a pele...
Expulsava-a daquela tela negra salpicada de manchas prateadas só para não saber que ela me vem agonizar as noites sem ti.

sexta-feira, junho 04, 2004

Soprar estrelas

No infinito reside o nada que nos move por entre as energias infiltradas do universo redondo que me corroi por dentro. É ai, no enorme, que vemos cada pedaço de nós envolvido num pano demasiado comprido para ser desfeito, somos amarrados à nossa presença, obrigados à nossa compreenção, somos sobre tudo rejeitados pelos nossos próprios desejos, aqueles de quando somos pequenos, aqueles de felicidade eterna e sorrisos perfeitos numa fotografia da família futura. Somos sugados pela nossa presença, aí, no meio do vazio, e apercebemo-nos que tudo é mentira, a verdade está mais além do que poderemos descobrir e qualquer segredo que nos sussurre devagarinho ao ouvido será mentira, já tomámos consciencia da verdade, e ela estará em ti!
É no infinito chamado compreensão que nos cruzamos, fantasma desagragado, e cortamos o ar em infinitos beijos. É aí, na compreensão do olhar cúmplice antes da madrugada chegar, que nos unimos em rodopios sem lógica, em sombras de monstros demasiado belos, em rodeios de palavras fugidias... Ah, elas fogem não fogem?... E como eu gosto de as agarrar no meio do ar vazio de respiração...

E só nós saberemos um dia a beleza de soprar estrelas no tecto do meu quarto...

terça-feira, junho 01, 2004

Na quinta ilha

— Só conheces a tua rosa depois dela florir toda a sua beleza. Se não regares a tua rosa, se não lhe deres o teu cuidado e a tua confiança, a tua rosa nunca abrirá todas as suas pétalas à luz do Sol porque tem medo... Só quando tu lhe deres a tua confiança é que conhecerás a sua verdadeira beleza. As pessoas e as rosas não se conhecem como se conhecem os objectos. Precisam da nossa confiança para se revelarem como são. E depois de se revelarem... não
podemos deixar de pensar delas senão o melhor!
E a menina continuou a fazer a sua trança como se atasse com
muito cuidado os cordões da saquinha de veludo onde guardava o seu
tesouro.

— E o que é preciso para eu te dar a minha confiança? —
perguntou o principezinho.
— Nada. Apenas acreditares naquilo que os teus olhos vêem e que
o teu coração sente. Só quando se acredita se conhece... Só quando
se acredita nas pessoas elas se transformam naquilo que são. É como
se o nosso interior nos florisse nas mãos e perfumasse quem os toca.
Mas para isso tens que acreditar em mim e eu tenho que acreditar
em ti.
E a menina começou a cantar com a sua voz muito fina e bela,
enquanto punha um lacinho na trança...


In Encontrei o Principezinho de Jorge Cabral dos Santos