Já os nossos corpos mergulharam juntos por entre esta selva de luz roubada, em movimentos perfeitos, em voos alados, numa dança sem fim no centro de um palco sem público. Deixar correr agora cada gota na janela baça... Que desperdicio!

quinta-feira, setembro 16, 2004

A tua "saudade" na minha porta

Deparei-me com a tua saudade presa na porta do meu quarto esta noite. Está ali, colada com dois pedaços de fita-cola dourada como o ar que se avizinha, um pequeno papel com uma letra esgafinhada onde se lê "Saudade". Há horas que me mantenho num estado de aceitação perante esta estranha visão mas, agora, pergunto-me de onde veio, quem a colou, como me alcançou?
O papel é branco. A tua pele é branca, não tão branca como o papel-da-saudade-colada-na-porta-do-meu-quarto, mas branca, como a minha. Realmente, que raio de catalogação que me arranjaram - brancos, pretos, amarelos e vermelhos. Não me chega, sempre preferi o laranja ou o verde. Mas o papel faz-me recordar-te, numa tarde, uma única tarde, um toque escondido por um gesto, por um retirar de cabelo... Tão terno...
As letras estão gatafunhadas a um vermelho, tenho receio que seja sangue, mas talvez não. Está assim... Feliz, uma escrita feliz (isso existe?). A saudade pode não ser triste não é? Afinal não preciso de me suicidar todas as noites num berro ou num sussurro, basta deitar-me no chão a soprar as minhas estrelas para te voltar a ver. O problema é que é tudo demasiado irreal. Não te toco, não te cheiro, não te sinto... Mas basicamente é o que vivo instante a instante, todos os dias.
Vou buscar o papel...


"Saudade" colada ao peito, onde tudo me habita e tudo se debate. Começo a sentir um aperto, de certeza que é da fita-cola. Percorro a borda do pequeno papel com os dedos a tremer, a tua cara, a tua pele esquecida debaixo dos meus lençois, aqueles em que nunca penetraste. Mas eu meto-te lá dentro, deito-me com tudo colado ao peito. Colo-te no meu lençol verde-alface, a "saudade" de não te ter, debaixo de mim, no meu quarto escuro, para te sentir. A tua pele está comigo para sempre, debaixo deste lençol fresco, do edredon mais quente, perto da almofada em que te abraço por vezes, o teu toque pertence-me por instantes.
A tinta desapareceu...


Peguei na caneta preta e escrevi, no lugar da "saudade" que me tomava o corpo debaixo dos lençois, "quero-te". Vou colar isto na porta do meu quarto, pode ser que quando vieres buscar o pequeno-papel-da-"saudade"-colado-na-porta vejas que mudei a cor da caneta e agora te quero, "quero-te" mais que a "saudade" que te devorou.

1 comentário:

Anónimo disse...

FUI A NÚMERO 100!!!!!! :D
Bem... como ainda não tinha comentado o teu blog (pelo menos com o meu nome por perto... lololol), achei que devia ser... agora! :p
Como já te disse, gostei muito deste... continuo sem me lembrar do nome... "post"?... ok! Não interessa!
E lembrei-me de outra "desculpa"... tomas-te uma atitude! Foste capaz de escrever qualquer coisa no papel! Acho que se fosse à um tempinho atrás o terias guardado apenas... ;)
BEIJOOOOOOOOOOOOOOOO *Soph*