Já os nossos corpos mergulharam juntos por entre esta selva de luz roubada, em movimentos perfeitos, em voos alados, numa dança sem fim no centro de um palco sem público. Deixar correr agora cada gota na janela baça... Que desperdicio!

sexta-feira, setembro 03, 2004

Flores negras

Não sei bem se morri sozinho ou acompanhado pela tua tristeza. Talvez tenha apenas sonhado a tua mão junto do meu peito enquanto me deitava na eternidade... Atirei-me para o manto de flores negras que estava no fundo do teu olhar molhado para não te ver mais, para não te ter mais assim. Sem mim estarás melhor. , Sem mim serás maior. Sou a cinza que te escorre pela pele nas noites de luar. Sou eu quem te mantém morta atrás dos véus que nos separam, sou eu, sempre eu!
Deitei-me e não me arrependo, só tenho medo de nunca mais me levantar. Medo de nunca te chegar a ver. As flores são negras cor do teu olhar, marcam-me a pele em delicados movimentos de ternura, corroem-me a alma em toques suaves, matam-me mais, levam-me mais longe. Levam-me ao azul do céu solarengo, ao medo pintado SÓ para ti, às cadeiras de baloiço que eu não deixo parar, às tua carne pendurada nas paredes do meu quarto, os teus pedaços colados na minha cabeça.
A tua mão... A minha mão... Não estavam juntas quando mergulhei.

1 comentário:

Miriam Luz disse...

FLORES NEGRAS

Não entendo esse ritual de prazer doentio
Porque me matas e me cobres de flores negras
Que foste guardando no fundo de um coração vazio
Que disfarçaste com sentimentos nascidos de pedras

Não entendo porque me levaste o peito cheio de fantasias
Em troca de flores secas roubadas em jardins abandonados
Acabando por mergulhar sozinho e de mãos vazias
No charco de lágrimas nascido dos meus olhos magoados

Talvez o meu olhar escuro espelhe a tristeza e a solidão
Talvez seja o reflexo negro das flores mortas que me ofereces
Que estrangulo, que aperto com mágoa junto ao coração

Talvez as flores sejam encarnadas de sangue e de paixão
Talvez não sejam negras como os punhados de terra
Que esta noite derramaste sobre o meu caixão

MRML