Já os nossos corpos mergulharam juntos por entre esta selva de luz roubada, em movimentos perfeitos, em voos alados, numa dança sem fim no centro de um palco sem público. Deixar correr agora cada gota na janela baça... Que desperdicio!

segunda-feira, junho 21, 2004

Podes dizer que me amas?

Só mais uma vez. Oh, prometo ser a última sabendo que vou mentir. O mel dos teus sussurros debaixo dos lençóis, é por ele que vou morrendo devagar. Espraiam-se os sussurros na infinita recordação dos nosso infinitos beijos, os momentos em que os teus lábio se abrem para me amares, quando me sugas para ti, e sou teu, sempre teu, como sempre fui (mesmo sem saber).
Se me amas, porque é que tenho isto cá dentro tão doloroso? Tira-me isto daqui já, arranca-mo, rasga-me a pele, rasga tudo de cá dentro, rasga as páginas passadas, cala o cânticos das sereias (metade mulher, metade baleias) que eu estou a dar em louco. Entoam em notas aliadas ao resplendescer de uma super-nova, devagar continuamente, dolorosamente. Mas levam-me, prendem-me as sereias para longe dos teus sussurros. são ciumes, puros ciumes. Sim, é tudo meu!... Ou não... Não sei, nunca me mostras tudo.

Estou cansado de ver o geral do teu dia banal, estou farto de não te ter para conersar, passas tanto tempo com a boca fechada. Nunca pensei que uma boca fechada pudesse magoar, como é que o fazes? Porque nunca me contas os pormenores?... Só queria saber-te dentro de mim, ou saber-me dentro de ti, ai que confusão.

Olha, podes dizer que me amas? Mas assim... devagarinho, como fazem as ondas do mar na praia da torre, em sussurros pequeninos e continuos, em beijinhos nos meus pés.

Nunca me beijaram os pés, nunca lhes tocaram a sério. Será preocupante? Nunca me amassaram os pés por amor, sei lá, por vezes... Não, já fui amado sim. Os pés... coitados dos meu pés. Nem sabem o sabor quente dos teus lábios! nunca lhes tocaste sequer... Mas eles anseiam pelo teu sabor, eu anseio por ti, tudo anseia por ti, o meu mundo perdido no teu sorriso de criança. Agora ris mais. Dantes rias menos.

Vá, diz que me amas enquanto almoças comigo, ou quando tomamos banho, prometes que tomarás banho comigo? Eu deixo-te veres-me fazer a barba, é uma coisa tão profundamente íntima para mim. Deixo-te rires-te das minhas caras quando me magoar numa borbulha qualquer, prometes? Dás-me tudo para viver mas é de ti que vem a morte dos sentidos, não consigo perceber. Talvez um dia, num dia assim de chuva e de outono, quando as folhas caem todas em danças aleatórias pelas ares dourados e cinzentos.
Como eu gosto do Outono, deixa-me sempre feliz passar num rua cinzenta e saber que mais tarde ou mais cedo um rasgo dourado me vai percorrer o olhar. E é o saber que tudo muda, que tudo cai para voltar a nascer que me faz assim querer-te mais. Cai tanto para te alcançar... Ama-me, diz que me amas quando as folhas cairem todas. Diz...

Só mais uma vez. Prometo ser a última sabendo que estou a mentir...

2 comentários:

Miriam Luz disse...

Não... Não deixes que caiam todas! Deixa uma... Deixa uma para testemunhar a tarde em que te levantas do vazio e deixas um rasto dourado nessas ruas cinzentas. A tarde em que não pedes que te amem. A tarde que se multiplica em vida e tranforma cada gota de chuva num doce mrmúrio que ecoa pelo universo... "Amo-te...amo-te...amo-te..."
Tudo o resto... Deixas-me?

"Se ele me tocasse seria a patética implosão dos meus sentidos"

Miriam...*

Anónimo disse...

preciso de ti