Já os nossos corpos mergulharam juntos por entre esta selva de luz roubada, em movimentos perfeitos, em voos alados, numa dança sem fim no centro de um palco sem público. Deixar correr agora cada gota na janela baça... Que desperdicio!

segunda-feira, junho 21, 2004

Medo...

Não há nada aqui, meu amor. Nada que nos prove, nada que nos incrimine os actos sagrentos de amor e paixão... Nem uma simples fotografia... Nada que nos possa prender, nada que nos possa guiar, nada para nos afogar ou fazer respirar. E estou confuso.

Ali, sentado no canto do meu carto de sombras pintado, choro as estrelas que se apagam. Correm pérolas preciosas pelo meu lânguido rosto, medo de não te ter. Agarra-as por favor, agarra as pérolas com as palmas das tuas mãos, lava-me com o teu corpo! Leva de mim tudo... ou o nada em que me vou tornando... Mas leva-me.
A parede já está quente, o frio foi embroa numa rajada de vento que me passou ao ouvido (seria um murmúrio teu?) e aqueceu-me todo o ar que mes está agora a fazer delirar. O vemelho toma conta das sombras. Oh, é sangue! Mas não é meu... é o dela... e se... Oh, eu quero-te a ti... Leva-me daqui, tira-me do inferno de sangue, leva-me para o meio das flores, para o centro das tuas estrelas, agarra-me de lá, não me largues! Medo.

É dele, agora já sei, a culpa é dele! Vem devagar. Primeiro transforma-se na alegria de um beijo apaixonad. E como os nossos beijos são apaixonados, lentos, demorados, rasgados em cada pedaço para poderem ser saboreados. Devia ser assim? Parece que nos beijamos mais com medo do depois. Terei os teus lábios na minha testa quando morrer? Não quero morrer... Medo... é como se chama.
E vem devagarinho, apodera-se das entranhas entrelaçadas no mais fundo de mim, bem no fundo para eu não reparar e então esconde-se. Mas começa a subir, faz a corda pelas lágrimas que me escorrem no canto do quarto pintado com o sangue das sombras transformadass e sobe, devagar, tal ladrão à espera de te roubar de mim. E vem assim, pé ante pé para que eu não o veja subir e deixar marcar em todos o meu corpo (ou serão os cortes das lágrimas mais quentes?). Oh, como ele é perfeito na sua jogada, nem se mascara muito, sobe apenas devagar sem reparar nas passadas inquietas bem ao meu lado. Nunca lhe vi a cor, quando me aparece à frente já estou com a lente das lágrimas à frente, aquela lente que faz ver o mundo mais imperfeito, fica tudo tão desaparecido...
Veio agora mesmo fazer troça de mim. Caiu-me em cima do colo com a cara de gozo treinada para me fazer triste. Posso jurar que é azulado, mas não sei, está tudo tão desaparecido. Pára, por favor... Medo... Tanto medo, ele está aqui, pânico, medo... Quero-te...

Hoje sou eu que me corto em pedaços, porque tenho medo de não te ter por completo, apenas porque nunca te sei no meu olhar.

1 comentário:

Miriam Luz disse...

Cortas-te em pedaços? Pois vou guardá-los todos (perto dos meus, os das palavras que não dizes, os que estão espalhados pelos cantos)!
Escondida nas sombras do teu quarto, vou beber o sangue que me abandona todas as noites. Vou lavar com as minhas lágrimas a dor que nos encerra.
Vou arrumar as estrelas que sopraste com ela.
Vou devolver as cores que pedi que roubassem ao arco-íris. Despir a blusa manchada.
Vou pedir que levem os espinhos. Que deixem as rosas.
Vou aprisionar dentro de mim o medo, deixar para ti a paz.
Vou ofercer-te pedaços do meu corpo (a alma já é tua...) para que não mutiles o teu.
Vou virar o mundo do avesso para finalmente poderes caminhar com o "azul do céu sob os teus pés".
Vou morrer... e nascer tua.
Mas não vou deixar que te "doa o universo".
"Terei os teus lábios na minha testa quando morrer?" Vou contar-te um segredo... quando morrem, os anjos viram flores. E cheiram bem. Cheiram a nuvem...

Marco, lembra-te que o "inferno de sangue" é meu. Tuas são a lua e as estrelas.

De raminho de alfazema no peito, mão estendida... eternamente à espera...

Miriam