Já os nossos corpos mergulharam juntos por entre esta selva de luz roubada, em movimentos perfeitos, em voos alados, numa dança sem fim no centro de um palco sem público. Deixar correr agora cada gota na janela baça... Que desperdicio!

domingo, julho 11, 2004

Não vais reparar

Sei de cor os teus cabelos e a cor dos teus lábios. Decorei o timbre delicado da tua voz quando se aperta numa gargalhada, o som do mar no teu sorriso, percorrido tantas vezes pelas falanges tortas dos meus tortos dedos, os teus olhos quando me amas , finalmente. Pintei no meu céu, em pinceladas cor da tua pele torrada de sol, as horas em que me perdi no teu olhar, em labirintos sem fim, as horas que corriam mais rápido que o tempo para não me deixarem saciar a sede do teu corpo. Tenho tanta sede agora... Mas vou partir...
Levo na palma das mãos as pérolas e os pedaços de cristal, os teus pedaços de cristal (não mos roubes!), juntos todos num saco azul de medo carregado, de receios que não param de chegar... Eu vou embora... Não vais reparar... Trago os cadernos em branco para te pintar à luz da lua e para te escrever no topo deles, não me quero esquecer! Vou inventar sorrisos, vou inventar brilhos para te amar ainda mais, vou crivar de abraços a lua e as estrelas de beijos doces que nunca em deste... E vou chorar por vezes. Não porque estou triste. Meu amor. Apenas porque estou feliz, feliz por cada sussurro, pelas pérolas que guardaste na palma da minha mão.
Vou, agora é a hora. Vou deixar o beiral da cama, presa nas teias escuras da noite, beijar-te a testa como fazem os pais e enchugar por fim a cara. A luz que passa por baixo da porta já me chama, quero só mais um beijo, mas não te quero acordar... Sonha comigo, como eu sonho contigo, sonharemos os dois juntos? Sonhas comigo? Não vais responder... Nem vais reparar... Mas eu fui embora...
E quando te roçar o brilho das estrelas nesse rosto tão meu, lembrar-te-ás de pequenos beijos, pequenas confissões, pequenas... tudo tão pequenino como tu... Basta-me que te lembres... Oh, queria que viesses atrás de mim.

1 comentário:

Anónimo disse...

Há palavras nos teus textos que me fazem chorar...essa das pinceladas de cor doi demais em mim...
Mesmo assim gosto de aqui vir vasculhar um bocadinho nas tuas palavras alguma coisa que espelhe um pouco do que tenho cá dentro.
Espero que não te importes...

Escreves tão bem =)
Lidda*