
Nada mais me cabe cá dentro. Trago a incerteza colada ao peito como uma tatuagem no local errado. Quero arrancá-la, atirá-la ao chão e fugir dela como se fosse daquelas decisões gigantes que nunca, mas mesmo nunca queremos tomar.
Nada mais me cabe cá dento... como se de repente pudesse transbordar. Seriam sonhos e lágrimas e palavras e sorrisos, tudo estilhaçado! Tudo coberto de sangue e carne podre do meu corpo! Eram os beijos, os abraços, os olhares, os jantares, as caminhadas nos sítios todos que conhecemos, as mãos dadas, as noites da lagoa, as dormidas nos carros, as viagens, o amor todo a escorrer-me pelos poros, pelos olhos, por tudo!... São estas as noites, mais sozinhas que as outras noites, em que tudo transborda sem nada mais entrar.
E eu sei lá como te ultrapassar, sei lá como dizer que sim ou que não a este coração que morreu! Sei lá como fingir que palpito ou que amo e me apaixono! Eu nem sei morar com a peça morta que se alojou no meu peito!... Há uma falha, sei lá, uma falha como se fosse um coma profundo do coração. Não morreu or completo mas... está ausente. Não existe de momento. Se lhe ligares vai directo ao atendedor automático- o vazio após todo o transbordar.
É isso mesmo. Eu tenho um coma no coração!
Acordem-me, por favor!