Passo.
Passo.
Imóvel, caminho até ao canto, até ao limite a partir do qual a queda é inevitável e lanço-me, de braços abertos, sobre o mundo a preto e branco.
O ar desliza na minha pele como as tuas mãos no meu coração [estrangulador, áspero, doloroso ] e abre sulcos nas barreiras que construí para nunca mais te deixar entrar enquanto me deleito com as memórias do que fomos cá dentro. E já fomos tanto eu e tu!...
Já fomos todo o tempo antes do tempo em que aterro agora na paisagem dura e vazia com a cabeça desfeita [ mais desfeita que o coração ] e os braços esmagados para não mais te abraçar.
Já fomos todo o silêncio antes do silêncio que agora se faz eterno dentro de mim para nunca mais te ouvir a voz.
Já fomos toda a vida, todo o futuro, todos os planos, todos os três... Todos os três, os três!!! Já fomos mais que eu e tu, mais que nós...!
[ já fui mais que eu ]
Já fomos o todo para agora acabar assim neste vazio, neste chão frio onde me espalho e me espraio para tentar abarcar o mundo e o pintar de mim próprio enquanto latejo por dentro pela úl-ti-ma vez.
Imóvel, reconstruo a barreira de sulcos abertos pelo ar; desaperto os punhos fechados na testa e caminho.
Passo.
Passo.
Para longe deste lugar.
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