Comigo o tempo corre mais lento que o normal, eu sei. Sei que cada segundo demora o tempo que o teu cérebro demora a descodificar o cheiro desumano da minha pele; o tempo médio que os teus neurónios demoram a explodir entre eles numa sinergia orgânica de um orgasmo elétrico que te faz salivar, devagar mas abundantemente, para dentro de mim.
Comigo o tempo não tem lugar: é inconstante como se os fotões decidicem tomar o caminho mais longo a percorrer a curta distância entre a minha boca (entreaberta) e os teus olhos pejados de outono só para poderem apreciar o caminho um pouco melhor, como se soubessem que o tempo (inexorável) não se repete nem se copia para nunca permitir que tudo volte ao que já foi. Movem-se à velocidade do bater das tuas pestanas, percebi hoje... E percebo-os tão bem!...
Comigo o tempo passa mais devagar porque o teu braço teima em não me abraçar quando o meu corpo pede por ti a meio da noite e a distância que separa os teus poros dos meus é a do suspiro que exalo quando te beijo tão devagar quanto os meus músculos me deixam sem me deixar estático em ti.
O tempo... O tempo é o vazio preenchido dentro de mim quando decides permitir-me dentro de ti, os segundos largados nos teus lábios esfomeados de outra coisa qualquer que eu ainda não desvendei e que trazes embrulhada dentro do teu peito sedento de uma qualquer outra coisa que não eu.
O tempo é a distância infinita entre mim e o teu coração escondido de mim, entre o teu peito e o meu beijo, entre os teus olhos e o meu corpo, entre as minhas mãos e a tua pele... Ai, são os segundos dentro dos minutos e horas de demoro a tentar, só tentar, tirar-te do céu da minha cabeça! E não consigo...
Sim, comigo o tempo corre mais devagar que o normal, como se eu quase pudesse pará-lo para não o deixar escapar, como se o quisesse tatuar na alma para não escapar mais; como se já soubesse que não vou voltar.
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