Já os nossos corpos mergulharam juntos por entre esta selva de luz roubada, em movimentos perfeitos, em voos alados, numa dança sem fim no centro de um palco sem público. Deixar correr agora cada gota na janela baça... Que desperdicio!

sexta-feira, abril 03, 2009

Rameira.


Vou gravitando pelas vielas escuras de salto vermelho e vestido rendado e desbotado. Sou puta velha, desgastada. Vendo o meu corpo por menos de um sorriso à procura dos teus lábios nos lábios deles.
Vou num desfile cambaleante por entre as luzes ofuscantes no calor húmido das ruas pequenas e fechadas até parar na esquina dos costume, por baixo do toldo azul, ao lado do caixote onde guardo a minha vida. Sou vadia de meias sem qualidade e lábios desbotados do meu próprio sangue.
Estou aqui! Venham e devorem-me. Há feridas e dores e palmadas e chutos na cabeça que só eu consigo oferecer. Há beijos e mordidas e chupões e palavras doces que só eu sei dizer. Venham!... Tentem levar daqui o que ainda não levaram, rasguem-me um pouco mais que o calor é impossível dentro de mim. Batam-me, rebentem-me para eu me sentir viva!

Sou puta velha e desgastada de beijos guardados e oferecidos ao desbarato. Sou o vestido roto que todos vêm e não consigo mais esconder; as meias ragadas nos joelhos (antes fosse de tanto rezar por ti, meu amor. Não é!); os punhos fechados, os lábios estirados, sorriso rasgado e mente perturbada.

Gravito nas vielas, gemo nas camas.

É uma putísse!... (Não é?)

5 comentários:

Daniel C.da Silva disse...

Não podias ter (d)escrito melhor.

Muito, muito bom.

[ Dk ] Mateus disse...

E dizem que se é rameira por opção. Talvez seja, mas opção de quem? De quem te usa e lambuza a alma e joga fora, ou tua mesmo?

Ser rameira é uma opção. Talvez a única que resta, quando um corpo não tem mais coração.

Lindo texto.

Cáh disse...

Olá querido...

Me parece triste e sombrio este texto, aquilo tudo que vc me disse "crú" aqui é crú em devaneios, e esconde tantas outras coisas...
Leia isso:

"Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica aos meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios.

Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios
A única entre todas a quem dei
Os carinhos que a outra daria.

Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela.

Essa mulher é o mundo! - uma cadela talvez
Mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela."


È do Vinicius de Moraes, adoro esta poesia e qdo li seu texto me veio ele na cabeça. Dizer de forma grotesca o que não se consegue dizer!


Beijos

Hera disse...

Forte mas muito factual.

Anónimo disse...

"You think that you are complicated, deep mystery to all
Well it's taken me a while to see, you're not so special
All energy no meaning, with a lot of words
So paper thin that one real feeling, could knock you down..."