É fantástico como as pessoas mudam, como tu mudaste. Devagarinho vai-se o interesse, vão-se a preocupação e os pequenos pormenores, as pequenas coisas. Vai-se tudo afundando no mais profundo segredo até que, sem mais ar, me afogo por dentro e rebento por fora. Secam os beijam, escasseiam os abraços e vai-se tudo, tão devagar quanto te foste.
Magoo-me assim, pensando, macerando o meu corpo com dores psicológicas até não aguentar mais. Não te quero perder mas tenho receio que... Haja mais lá fora. Alguém que me recorde, que me anseie em tudo o que faço, que me devolva os pedaços que foram espalhados, estilhaçados pelo tempo. Alguém que me refaça, que me destrua e me renasça! Sei lá, tenho receio que haja mais, algo mais. Um interesse pelo que digo, pela termodinâmica que odeio, pelo estado sólido, pela equação de Schrödinger!... Pelo que escrevo. Quer dizer... toda a gente acha muita piada ao que escrevo ao início. Até que, miraculosamente, se escquecem que escrevo. Será que despareço num qualquer instante e me torno outro? Que foi que te fiz? Onde foi que me anulei? Ah, perguntas retóricas, não podiam ser de outra forma. Não me lês. Eu não te aviso que escrevo. Passa-te ao lado. Como os meus pequenos "eus", as minhas pequenas coisas.
Ganhar um campeonato, chegar a casa. A minha irmã viu. Pelo menos ela! Viu-me o David, e mais gente, mas a minha irmã é de propósito, vale mais. Outras esquecem. Olham para a taça grande, sentada no topo do meu guarda-fatos, e nem ousam questionar de onde vem. É como se sempre lá tivesses estado mas nunca nele tivesses reparado. Que engraçado, como eu me sinto pequeno quando penso assim. É terrivel!...
Esquecem-se os pormenores e, sem dar-mos por isso, escapam-se os sentidos, de mansinho [e como esta palavra o descreve tão bem]...