Já os nossos corpos mergulharam juntos por entre esta selva de luz roubada, em movimentos perfeitos, em voos alados, numa dança sem fim no centro de um palco sem público. Deixar correr agora cada gota na janela baça... Que desperdicio!

quinta-feira, janeiro 01, 2009

Novo

Queria agarrar-te a mão. Queria encostar a tua cabeça no meu peito possante do teu cheiro (quase desconhecido). Queria saltar, agarrar-te a meio do salto gigante das nossas longas pernas, maiores que todas os outras quando juntas e entrelaçadas. Queria abraçar-te e entrar em ti, ser só um e saber-te em mim. Queria contar contigo o início da nova vida, cronometrar corações, sincronizar a respiração!... Ai!

Era noite e tu não estavas. Ou era eu quem não estava?... É uma decisão difícil de tomar. Eu não estava; tu não estavas também. A multidão atropelava-se para chegar ao centro do nada que as envolvia em grupos gigantes e em conversas casuais como a chuva que decidiu parar no momento certo. Chovera o dia inteiro mas parou. O caminho era torduoso e o meu céu estava fosco como se toda a luz fora finalmente roubada. Sei quem a roubou mas não o consigo fazer devolver. E é sempre o mesmo, sempre tu quem ma roubas à noite para nunca ma devolveres. Retiras pouco a pouco cada pedaço para que eu não repare que fico mais escuro, menos intenso, à espera da devolução total, da troca anciosa da minha luz pelo teu olhar de esguelha, sempre de esguelha; sempre com medo... ( Ainda) o mesmo medo. Mas tu podes olhar para mim! Eu não brilho mais. Encara-me de frente que já não te desapareço dos olhos, nunca mais.
Bom, mas o caminho era torduoso. Cada pé longe dos outros pés mas os ombros encolhem e não evitam o roçar dos corpos inertes. Cheguei ao centro do nada para descobrir que o nada final era imenso, grande e altivo como a montanha de vento do outro lado do rio. E esperei. Esperei por ti de novo e nunca chegaste. Não sei se voltas a chegar novamente. Antes eras certeiro com o sussurro do meu coração. Não passava um minuto em que não estivesses lá: mão colada a mim e olhar desligado do mundo, perdido dentro do meu (saudade dos teu olhos... Suspiro e nem me oiço). Ou... Não, com certeza não foi apenas um plano dos fazedores de sonhos. Eu acredito, eu acredito que já aqui estiveste comigo. Eu sei! Eu sei, eu sei, eu sei, amor...! Continuo à espera mas a contagem terminou. Os ares foram inundados de luz pulsante mas eu continuo escuro.

Queria ter-te agarrado a mão. Queria ter saltado de mãos dadas. Queria ter contado ao contrario e falado sem pensar. Queria ter tido a tua cabeça e o teu abraço e o teu cabelo desalinhado na perfeição e o teu beijo. Mas em vez disso eu não estava. Tu não estavas. De novo e de novo outra vez...

[Triste].

2 comentários:

Anónimo disse...

Humm, a saudade interminável, como sei a que sabe!!!
Lindo este teu desabafo inconsolável.
Que 2009 te presenteie com esperança renovada e com sonhos concretizáveis.
Tudo de bom poeta saudoso...
Beijinhos

Unknown disse...

Não sei se me faz bem ler estas coisas, mas é bom descobri um pouco mais de ti sobretudo no que diz respeito ao talento, pelo menos o texto é lindíssimo e as palavras parecem fluir!parabéns!!!Gostei muito!!!
abraço e até sexta
João