Já os nossos corpos mergulharam juntos por entre esta selva de luz roubada, em movimentos perfeitos, em voos alados, numa dança sem fim no centro de um palco sem público. Deixar correr agora cada gota na janela baça... Que desperdicio!

terça-feira, janeiro 24, 2006

Fugir

Não quero fugir sozinho. Preciso que me leves embrulhado num manto qualquer bordado com fios do teu cabelo. Preciso que me obrigues a sair pela porta que derrama a luz pela cama cheia de um outro universo que não quero mais (mas que quero tanto).


Agarras-me a mão devagar e puxas-me para fora da bolha multicolor que não me deixa espreitar o mundo. Agarras-me pelo antebraço e puxas-me com força para o teu peito, escondes-me no teu regaço, no fundo, onde guardas o coração. As minhas lágrimas são os teus beijos espraiados pela minha cara, enrolados pelos meus lábios já salgados do ar que respiras de mansinho para ninguém te ouvir partir comigo dentro de ti.
Caminhas como se flutuasses como eu flutuo naqueles dias cansados com o sol a por-se por detrás de mim, naqueles passos de quem caminha sobre um muro para ninguém nos ouvir, com o risco eminente de cair que torna tudo tão vivo e especial. E vais, como se tudo fosse sugado para fora deste quarto, por entre as poças de luz que ainda resistem ao passar do tempo, por entre as gotas de suor que escorrem pela porta em sinal de paixão renhida e amor trovador de um vida inteira.
Mas tu foges comigo. Foges comigo dentro do teu peito como se flutuasses e me prendesses contra ti.
Sem medo.
Sem medo...
E eu tenho tanto medo...

Sem comentários: