Fechei-te em mim como se guardam os segredos, sem lembrança ou recordação que te possam fazer voltar. Não te conheço já os gestos nem os jeitos, os tiques nervosos, o olhar cheio de quem traz o mundo no coração... Não te conheço mais a voz, as mãos, os dedos que escreviam o tempo com a tinta da vida esguia que te perseguia; o olhar lânguido que morreu quando te escondi.
Fechei-te em mim para não te ver, para apagar o caminho de flores que percorridas aos saltos despreocupado. Fechei-te em mim para me encontrar, para te perder,para não te saber. Fechei-te em mim para não mais te ser.
segunda-feira, outubro 20, 2014
[24/06] Fechado
terça-feira, outubro 07, 2014
Dois passos
Passo.
Passo.
Imóvel, caminho até ao canto, até ao limite a partir do qual a queda é inevitável e lanço-me, de braços abertos, sobre o mundo a preto e branco.
O ar desliza na minha pele como as tuas mãos no meu coração [estrangulador, áspero, doloroso ] e abre sulcos nas barreiras que construí para nunca mais te deixar entrar enquanto me deleito com as memórias do que fomos cá dentro. E já fomos tanto eu e tu!...
Já fomos todo o tempo antes do tempo em que aterro agora na paisagem dura e vazia com a cabeça desfeita [ mais desfeita que o coração ] e os braços esmagados para não mais te abraçar.
Já fomos todo o silêncio antes do silêncio que agora se faz eterno dentro de mim para nunca mais te ouvir a voz.
Já fomos toda a vida, todo o futuro, todos os planos, todos os três... Todos os três, os três!!! Já fomos mais que eu e tu, mais que nós...!
[ já fui mais que eu ]
Já fomos o todo para agora acabar assim neste vazio, neste chão frio onde me espalho e me espraio para tentar abarcar o mundo e o pintar de mim próprio enquanto latejo por dentro pela úl-ti-ma vez.
Imóvel, reconstruo a barreira de sulcos abertos pelo ar; desaperto os punhos fechados na testa e caminho.
Passo.
Passo.
Para longe deste lugar.