Já os nossos corpos mergulharam juntos por entre esta selva de luz roubada, em movimentos perfeitos, em voos alados, numa dança sem fim no centro de um palco sem público. Deixar correr agora cada gota na janela baça... Que desperdicio!

domingo, outubro 10, 2010

REconstrução

Estou num sítio escuro para não me ver. Creio que tenho de parar. No meu peito há vazios que não se reconstroem mais. Há buracos, gigantes buracos que teimam em crescer e tomar-me como um todo coeso que já não sou mais. Eu tenho de parar!...
Aqui, eu escolho não saber onde vão as minhas mãos depois de me taparem os olhos molhados de outros olhos que já foram os meus. Aqui, eu escolho não me sentir: morrer de mim próprio para não mais me saber.
Falo sozinho do meu mundo em ruptura total por não saber sequer se isto é verdade. No meu peito adensa-se o negrume que me entra pelos poros doridos dos impulsos nervosos que evito sentir com toda a força que posso, com tudo o que ainda consigo ser. Eu estou morto. Estou morto, porra! Não sou mais ele por quem se apaixonam com o sorriso estúpido na cara. Sou o vazio, os buracos imensos cheios do ar que guardei para nunca mais me esquecer de quem fui. Sou as lágrimas secas que desfilam no corredor cravado na outra cara que não sou mais eu. Não sou. Eu não sou.
Acho que tenho de parar. Os buracos não se reconstroem mais. Eu pensei que sim. Achei que podia continuar a oferecer pedaços de mim, pequenos, mesmo pequenos, sem voltar a sentir a falta deles. Eu pensei que voltavam com o tempo, que o tempo era O tempo! Que ele faria as coisas bem de novo. Mas o tempo parou dentro de mim. E eu tenho de parar... porque estou morto. Morto de mim. Morto de nós: eu e os meus buracos vazios.

2 comentários:

D2b disse...

Um pedaço MEU. Sim, é meu! Deste-o e não, não to vou devolver. É meu e vou usá-lo sempre, já o cosi na baínha do meu peito. Lágrima a lágrima, sorriso a sorriso. Momento a momento. Mãos dadas e olhares trocados. O mundo apagado à nossa volta, sempre às escuras. Por isso aceita o pedaço que te ofereci. É teu, sempre foi e não o quero de volta.

Tapa pelo menos esse buraco assim... eu sobre ti.

Alma Perdida disse...

É preciso que se saiba distinguir buracos negros de vazio... Tudo o que damos de nós não nos deixa vazios, antes pelo contrário, cria-nos aglomerados densos de emoções... Tão mais densos quanto mais nos afectam e a verdade é que nos afectam muito mais mais quando nos magoam... Mas não são vazios... São tão densos que deformam o tempo e este deixa de se comportar de acordo com o que esperamos dele... Atraem-nos tão inevitavelmente que não conseguimos ver a luz em volta e nos sentimos totalmente consumidos por eles... Felizmente, as emoções humanas desrespeitam as leis da física, por isso é possível escapar... Para o mesmo espaço? No tempo que seria de esperar? Naturalmente que não...

Raramente falamos sozinhos...