Já os nossos corpos mergulharam juntos por entre esta selva de luz roubada, em movimentos perfeitos, em voos alados, numa dança sem fim no centro de um palco sem público. Deixar correr agora cada gota na janela baça... Que desperdicio!

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Secretamente

Esta distância parece interminável. Conto os segundos que faltam para sentir de novo o toque da tua mão na minha cara, o roçagar dos teus cabelos nos meus dedos ansiosos pela tua pele sedenta de mim.

Ai, esta distância parece interminável!

Sento-me no canto do quarto, no canto mais escuro onde um dia te empoleiraste para espreitar para dentro de mim. As sombras descolam-se devagar da parede branca e vêem dançar com a minha memória de ti. Os teus dedos achatados agarram a minha mão [ou será apenas a saudade que aperta cada pedaço de mim?]... Perco os sentidos.

As sombras desenham-se no meu peito como se fossem a pena do teu corpo tatuado em mim. Sinto o teu calor e o teu peso como se fizessem parte de mim, como se fosse mesmo assim, como se sem eles não fosse o mesmo. Sinto a ternura do teu abraço enquanto as formas inquietas se agasalham em mim. Sinto o teu tépido beijo... Sinto os teus tépidos lábios...

Sinto os teus lábios quando me aproximo da parede já branca e nua de sombras. Sou eu quem agarra o teu braço, sou eu quem te puxa e te faz voar! Sou eu! Ah, eu sinto os teus lábios quando beijo a minha pele. Sinto-os nos meu poros que chamam pelo teu suor e pela doçura do teu odor. Ai, esta distância, esta distância... parece interminável.

Conto os segundos até ao momento exacto em que me tocas devagar. A sombra volta para trás de mim como se me seguisse cada movimento e eu deixo-me adormecer nesse teu abraço maduro.

Então, com a cor azul dos teus sonhos, desenho os meus lábios com a tua mão e deposito o meu beijo na tua pele.

E sou teu, meu amor. Sou teu sem tu saberes...

Assim, secretamente.