Esta distância parece interminável. Conto os segundos que faltam para sentir de novo o toque da tua mão na minha cara, o roçagar dos teus cabelos nos meus dedos ansiosos pela tua pele sedenta de mim.
Ai, esta distância parece interminável!
Sento-me no canto do quarto, no canto mais escuro onde um dia te empoleiraste para espreitar para dentro de mim. As sombras descolam-se devagar da parede branca e vêem dançar com a minha memória de ti. Os teus dedos achatados agarram a minha mão [ou será apenas a saudade que aperta cada pedaço de mim?]... Perco os sentidos.
As sombras desenham-se no meu peito como se fossem a pena do teu corpo tatuado em mim. Sinto o teu calor e o teu peso como se fizessem parte de mim, como se fosse mesmo assim, como se sem eles não fosse o mesmo. Sinto a ternura do teu abraço enquanto as formas inquietas se agasalham em mim. Sinto o teu tépido beijo... Sinto os teus tépidos lábios...
Sinto os teus lábios quando me aproximo da parede já branca e nua de sombras. Sou eu quem agarra o teu braço, sou eu quem te puxa e te faz voar! Sou eu! Ah, eu sinto os teus lábios quando beijo a minha pele. Sinto-os nos meu poros que chamam pelo teu suor e pela doçura do teu odor. Ai, esta distância, esta distância... parece interminável.
Conto os segundos até ao momento exacto em que me tocas devagar. A sombra volta para trás de mim como se me seguisse cada movimento e eu deixo-me adormecer nesse teu abraço maduro.
Então, com a cor azul dos teus sonhos, desenho os meus lábios com a tua mão e deposito o meu beijo na tua pele.
E sou teu, meu amor. Sou teu sem tu saberes...
Assim, secretamente.